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Uma radiografia dos novos prefeitos do Brasil

03/01/2017 06h30

Novo mapa municipal do poder expõe um país ainda mais dividido, com número recorde de partidos políticos no comando, avanço de siglas médias e pequenas e do discurso antipolítico. Mulheres, negros e homossexuais são minoria entre os prefeitos

Congresso em Foco

Realizadas no auge das crises política e econômica e sob o efeito de novas regras, as eleições municipais infligiram ao PT a maior derrota de um partido desde a redemocratização. Mas os petistas não foram os únicos rejeitados. O novo mapa do poder municipal, que se torna realidade neste domingo (1º), com a posse dos novos prefeitos, expõe um país ainda mais dividido e contrariado com o discurso da política tradicional. Empresários ricos que tentaram passar a ideia de que não têm nada a ver com a política vão comandar cidades como São Paulo, Belo Horizonte e Porto Velho, casos de João Doria (PSDB), Alexandre Kalil (PHS) e Dr. Hildon (PSDB).

Com a participação inédita de 35 partidos políticos na última eleição, as prefeituras serão controladas por um número recorde de legendas: 31 (apenas PSTU, PCO, PCB e Novo não emplacaram prefeitos). No comando dos 92 municípios com mais de 200 mil eleitores, estão agora siglas como o PTN, o Solidariedade, o PSC, o PMN, de Rafael Greca, em Curitiba, o PHS, de Kalil, na capital mineira, e o PRB, de Marcelo Crivella.

Entre os prefeitos eleitos, 920 conseguiram a reeleição e 55 disputaram o cargo enquanto ocupavam o posto de deputados federais ou estaduais. Negros e mulheres continuam sub-representados no comando das prefeituras. Dos 5.545 prefeitos eleitos, 4.903 são homens; apenas 642 são mulheres. Só uma capital brasileira será conduzida por uma prefeita, Boa Vista, em Roraima, com a reeleita Teresa Surita (PMDB), que já havia sido a única vitoriosa na eleição anterior. Outras duas vão administrar cidades com mais de 200 mil eleitores: Raquel Lyra (PSDB), em Caruaru, e Paula Mascarenhas (PSDB), em Pelotas (RS).

A grande maioria dos novos prefeitos se declara branca e tem de 45 a 54 anos. Eleito aos 88 anos, o professor Josibias Cavalcanti (PSD) é o mais velho do país e vai comandar, pela terceira vez, o município de Catende, na Mata Sul de Pernambuco, com 38 mil habitantes. Suas outras duas passagens pelo cargo foram ainda nas décadas de 60 e 70. Já o prefeito mais jovem é Leonardo José Caldas Lima (PRB). Com 21 anos, o novo administrador da cidade de Milagres do Maranhão (MA) recebeu 52,44% dos votos válidos.

Os números mostram a dificuldade de negros e indígenas chegarem ao poder em suas cidades. Em todo o Brasil, 3.906 prefeitos se apresentam como brancos (70,4%); 1.513 como pardos (27%); apenas 93 informaram à Justiça eleitoral que se consideram negros (1,6%), 27 (0,4%), amarelos, e seis (0,1%), indígenas. Um deles é o professor Isaac Pyânko (PMDB), da etnia Ashaninka, o primeiro prefeito indígena do Acre. Ele vai comandar o município de Marechal Thaumaturgo, com 16 mil habitantes. Somente dois prefeitos assumem publicamente que são homossexuais: Edgar de Souza (PSDB), reeleito em Lins (SP), e Wirley Rodrigues (PHS), o Têko, de Itapecerica (MG), que enfrentou preconceito e homofobia e vai comandar o seu município, de 21 mil habitantes, pela primeira vez.

Com a pulverização dos votos, o partido que mais perdeu espaço nas administrações municipais foi o PT. A legenda recebeu 17 milhões de votos a menos em comparação com 2012, perdeu mais de 60% das prefeituras que controlava e governará apenas 15% da população que estava sob sua gestão nos municípios anteriormente. Das 638 cidades que administrava, a legenda só conseguiu manter o comando sobre 109, perdendo para o PMDB, o PSDB e outras 23 legendas, sobretudo pequenas e médias.

Enquanto o PT manteve o controle sobre 17% de seus municípios, tucanos tiveram o dobro de aproveitamento: conquistaram 34% das localidades que já governavam. O único petista a vencer em uma capital foi Marcus Alexandre. Com a vitória, ele repetiu o cenário vivido pelo PT em 1985. Com uma campanha desassociada do partido, baseada na cor laranja e sem a tradicional estrela, Marcus vai comandar Rio Branco pela segunda vez.

Os milionários

Um em cada cinco prefeitos declara possuir patrimônio superior a R$ 1 milhão. Do total, 55 informaram bens acima de R$ 10 milhões e, desses, 29 dizem possuir mais de R$ 20 milhões. A maioria está em Minas Gerais, estado que tem 161 prefeitos “milionários”. Em seguida, aparecem São Paulo, com 137, Rio Grande do Sul, com 85, Paraná, com 83, Bahia, com 80, Goiás, com 73, e Mato Grosso, com 63.

Das 26 capitais brasileiras, 11 serão administradas por prefeitos com mais de R$ 1 milhão em bens declarados. São elas: Belém (Zenaldo Coutinho, do PSDB); Belo Horizonte (Kalil, do PHS); Campo Grande (Marquinhos Trad, do PSD); Cuiabá (Emanuel Pinheiro, do PMDB); Goiânia (Iris Rezende, do PMDB); João Pessoa (Luciano Cartaxo, do PSD); Natal (Carlos Eduardo, do PDT); Palmas (Carlos Amastha, do PSB); Porto Velho (Dr. Hildon, do PSDB); Salvador (ACM Neto, do DEM); e São Paulo (João Doria, do PSDB).

Os partidos que mais têm prefeitos com patrimônio acima de R$ 1 milhão são o PSDB (206), o PMDB (205), o PSD (107), o PP (81), o PSB (79), o PDT (66), o PR (60), o DEM (53), o PTB (49), o PT (32) e o PV (29). Abaixo, os cinco prefeitos mais ricos:

Vittorio Medioli (PHS) – Betim (MG) R$ 352,5 milhões

Antidio Lunelli (PMDB) – Jaraguá do Sul (SC) R$ 280,5 milhões

João Doria (PSDB) – São Paulo (SP) R$ 179,7 milhões

Francis Maris (PSDB) – Cáceres (MT) R$ 60,1 milhões

Toni Mafini (PSDB) – Novo Mundo (MT) R$ 55,5 milhões

Base aliada

Dos 26 prefeitos eleitos nas capitais neste ano, 14 terão maioria na câmara municipal no início da legislatura. Ao menos sete poderão enfrentar problemas para aprovar projetos, já que a oposição será mais numerosa. Veja a situação de cada um deles:

Aracaju

Edvaldo Nogueira (PCdoB)

Base aliada 8

Oposição 14

Independentes ou indefinidos 2

Belém

Zenaldo Coutinho (PSDB)

Base aliada 18

Oposição 12

Independentes ou indefinidos 5

Belo Horizonte

Alexandre Kalil (PHS)

Base aliada 14

Oposição 16

Independentes ou indefinidos 11

Boa Vista

Teresa Surita (PMDB)

Base aliada 8

Oposição 13

Campo Grande

Marquinhos Trad (PSD)

Base aliada 8

Oposição 17

Independentes ou indefinidos 4

Cuiabá

Emanuel Pinheiro (PMDB)

Base aliada 11

Oposição 14

Curitiba

Rafael Greca (PMN)

Base aliada 20

Oposição 9

Independentes ou indefinidos 9

Florianópolis

Gean Loureiro (PMDB)

Base aliada 12

Oposição 5

Independentes ou indefinidos 6

Fortaleza

Roberto Cláudio (PDT)

Base aliada 31

Oposição 10

Independentes ou indefinidos 2

Goiânia

Iris Rezende (PMDB)

Base aliada 16

Oposição 19

João Pessoa

Luciano Cartaxo (PSD)

Base aliada 16

Oposição 11

Macapá

Clécio Luís (Rede)

Base aliada 10

Oposição 13

Maceió

Rui Palmeira (PSDB)

Base aliada 13

Oposição 7

Independente ou indefinido 1

Manaus

Arthur Neto (PSDB)

Base aliada 19

Oposição 18

Independentes ou indefinidos 5

Natal

Carlos Eduardo (PDT)

Base aliada 11

Oposição 3

Independentes ou indefinidos 14

Palmas

Amastha (PSB)

Base aliada 8

Oposição 6

Independentes ou indefinidos 5

Porto Alegre

Nelson Marchezan Jr (PSDB)

Base aliada 11

Oposição 7

Independentes ou indefinidos 18

Porto Velho

Dr. Hildon (PSDB)

Base aliada 4

Oposição 17

Recife

Geraldo Julio (PSB)

Base aliada 31

Oposição 6

Independentes ou indefinidos 2

Rio Branco

Marcus Alexandre (PT)

Base aliada 12

Oposição 5

Rio de Janeiro

Marcelo Crivella (PRB)

Base aliada 36

Oposição 8

Independentes ou indefinidos 8

Salvador

ACM Neto (DEM)

Base aliada 30

Oposição 10

Independentes ou indefinidos 3

São Luís

Edivaldo Holanda Jr (PDT)

Base aliada 24

Oposição 7

São Paulo

João Doria (PSDB)

Base aliada 34

Oposição 11

Independentes ou indefinidos 10

Teresina

Firmino Filho (PSDB)

Base aliada 22

Oposição 3

Independentes ou indefinidos 4

Vitória

Luciano (PPS)

Base aliada 11

Oposição 3

Independente ou indefinido 1

Número de candidatos por partido

PMDB – 2.382

PSDB – 1.757

PSD – 1.368

PP – 1.157

PSB – 1.093

PT – 1.004

População governada por partido (milhões)

PSDB – 48,8

PMDB – 29

PSB – 16,7

PSD – 13,6

PDT – 12,5

DEM – 10,9

PP – 9,8

PRB – 9,7

PL – 8

PTB – 6,9

PT – 5,8

Reeleita, Teresa Surita vai comandar a Prefeitura de Boa Vista, em Roraima. Ela é a única mulher que vai administrar uma capital

Professor Isaac Pyânko é primeiro prefeito indígena do Acre e vai comandar o município de Marechal Thaumaturgo

Uma radiografia dos novos prefeitos do Brasil

Vittorio Medioli, novo prefeito de Betim, é líder no ranking dos que declararam maior patrimônio

Uma radiografia dos novos prefeitos do Brasil