Unidades de pesquisa do MCTI discutem mudanças climáticas na Mata Atlântica, no Pantanal e no Pampa

A Casa da Ciência recebeu especialistas para a mesa redonda intitulada Mudanças Climáticas e a Resiliência dos Biomas da Mata Atlântica, Pantanal e Pampa. O painel reuniu representantes do Instituto Nacional da Mata Atlântica (Inma); do Instituto Nacional de Pesquisas do Pantanal (INPP); e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), todas unidades de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). A casa é a sede do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação em Belém (PA) durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (COP30).

A Mata Atlântica alcança 17 estados e abriga metade da população brasileira. Representando o presidente do Inma, Pedro Viana, o doutor em biologia vegetal Sérgio Lucena apontou que o bioma conta hoje com um quarto da sua cobertura original, o que traz riscos às áreas urbanas com o aumento de eventos climáticos extremos.

“A Mata Atlântica provê serviços ambientais importantes para nossa sobrevivência, como o sequestro de carbono, a manutenção de reservatórios hídricos, o controle de erosão e enchentes, assim como a provisão de água, alimentos, produtos naturais, e identidade cultural”, afirmou.

De acordo com o pesquisador, os eventos climáticos se tornaram mais intensos nos últimos anos e trouxeram consequências como a crise hídrica no Sudeste e as enchentes na Região Sul. A solução, ele complementou, é usar a ciência para preservar o bioma e sensibilizar a população.

“É crucial a conservação de todo o remanescente florestal da Mata Atlântica. A gente tem arcabouço legal para proteger isso. A gente tem que partir da premissa de desmatamento zero, se a gente quiser pensar em uma restauração, reparação desse bioma”, frisou.

Pantanal

O diretor do INPP, Leandro Dênis Battirola, descreveu o ciclo natural de inundação do Pantanal e a quebra do equilíbrio trazida pelas mudanças climáticas no bioma. As consequências disso são a diminuição da umidade e o aumento da temperatura e da quantidade de incêndios.

“Por que os incêndios na região foram tão graves? Porque o Pantanal concentra matéria orgânica no solo. Diferente do Cerrado, em que o fogo queima a superfície, no Pantanal o fogo continua queimando o subsolo”, ressaltou. O pesquisador mostrou também que a cooperação entre instituições da região é um caminho para evitar consequências mais sérias.

“A ciência já mostrou caminhos, o entendimento de que o Pantanal não é só a área inundável, mas tem toda uma zona de entorno que está sendo afetada, e afeta o Pantanal. Isso tudo tem que ser trabalhado de maneira conjunta, junto com o setor produtivo, a população pantaneira, instituições de pesquisa. Alguns artigos falam que até 2100 não teremos mais Pantanal. Há uma tendência de desertificação”, pontuou.

Pampa

O Pampa, por sua vez, ocupa 60% do Rio Grande do Sul (RS) e também está presente na Argentina e no Uruguai. O bioma, composto principalmente pela vegetação campestre, é importante para retardar o efeito das mudanças climáticas, permitir a conservação dos recursos hídricos e funcionar como base para a atividade pecuária na região.

A bióloga e pesquisadora do Inpe Tatiana Kuplich descreveu a importância de criar unidades de conservação no bioma, fiscalizar a supressão ilegal e aumentar a conscientização ambiental. “A gente só tem 3,2% do Pampa em unidades de conservação. A gente está longe dos objetivos estabelecidos em uma das COPs, em 2015, em que deveria haver pelo menos 17% de cada bioma conservado”, afirmou.

Kuplich também asseverou que manter a biodiversidade é essencial para conter as consequências da mudança do clima. “O Pampa é um bioma extremamente resiliente. É o único bioma que precisa da ação do homem. Se eu fizer uma unidade de conservação e deixar quieta, a floresta vai acabar tomando. O pastejo é que garante a manutenção da vegetação campestre. Com o pastejo adequado, a gente vai manter a biodiversidade, que é a questão chave para a gente resistir às mudanças climáticas”, disse.

Casa da Ciência 

A Casa da Ciência do MCTI, no Museu Paranaense Emílio Goeldi, é um espaço de divulgação científica, com foco em soluções climáticas e sustentabilidade, além de ser um ponto de encontro de pesquisadores, gestores públicos, estudantes e sociedade. Até o dia 21, ela será a sede simbólica do ministério e terá exposições, rodas de conversa, oficinas, lançamentos e atividades interativas voltadas ao público geral. Veja a programação completa

Fonte: Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação