28/02/2016 18h
Ponta Porã Linha do Tempo: A Origem histórica do Tereré, bebida símbolo da região fronteiriça do Brasil e Paraguai no Estado de Mato Grosso do Sul e Departamento del Amambay.
Divulgação: Dora Nunes
*Yhulds Giovani Pereira Bueno
“Fronteira querida do meu coração, fronteira amada, desejada e cobiçada, fronteira sem fronteiras e sem portão, fronteira aberta uma só nação, bom ser fronteiriço cheio de paixão”. http://pensador.uol.com.br/autor/yhulds_bueno/4/
Bebida símbolo da região de fronteira, todo fronteiriço, brasileiro, brasiguaio, paraguaio e tantos outros que pela região passam, não dispensam um bom tereré gelado com os remédios (“jujos” raízes, folhas plantas nativas terapêuticas da região de fronteira), mas de onde veio essa bebida, essa tradição?
Segundo fontes de pesquisadores e historiadores que buscam informações sobre o assunto e publicam nas redes on line (internet) ou em livros, existem várias versões sobre a proveniência do tereré, entre muitas vamos abordar algumas e suas curiosidades.
A origem do tereré segundo historiadores e pesquisadores, data da invasão e colonização europeia por castelhanos e portugueses, quando era usado pelas tribos guarani, nhandeva, kaiowá e outra etnias chaquenhas, isso muito antes da Guerra do Paraguai. Diz à lenda que durante a Guerra do Paraguai, os soldados de ambos os lados (Brasil e Paraguai), durante os tempos de folga entre um combate e outro, ou às vezes até mesmo em pleno combate, gostavam de tomar um chimarrão para repor os ânimos.
Buscando em memorias perdidas no tempo, mas reavivadas quando se reuniam os velhos amigos no fim de tarde, depois da lida no campo, dos afazeres diários sentados formando as rodas de “proza”, conversando, relembrando o passado quando tudo aqui era nada, e o nada virou tudo, comentando dos bravos corajosos
que lutaram para defender sua bandeira sua honra, muitos tombaram lavando o chão de vermelho, marcando a terra, uns que passaram, mas não permaneceram, outros que vieram somente de passagem e aqui moraram até o fim.
Assim foi a formação da região sul de Mato Grosso, marcada por guerras, conflitos e exploração, que suas histórias viraram causos e até lendas, de desbravadores que tiveram coragem, pois aqui formaram as estancias, construíram suas moradas e famílias, muitos causos perdidos no tempo, de muitas histórias adormecidas, mas graças a famílias que guardam com carinho essas memórias, que as mesmas podem ser no imaginário de cada fronteiriço revivido, através das narrativas destes feitos de outros tempos desta fronteira querida deste povo hospitaleiro.
Quando se ouve falar em exploração de erva mate na região fronteiriça do grande Mato Grosso de outros tempos, épocas distintas da formação de Ponta Porã e Pedro Juan Caballero, logo vem à mente a figura de Thomaz Larangeira, que foi um dos percursores, se não o principal no pós-guerra da “Tríplice Aliança” a explorar o potencial do cultivo da erva nativa, expandindo e exportando aos quatro cantos das Américas, principalmente para Argentina que posteriormente se tornou um grande país produtor de erva mate.
Segundo informações e relatos de fontes e registros históricos. Thomaz Larangeira criou inicialmente a “Empresa Matte Laranjeira”, que posteriormente ficou denominada “Companhia Matte Laranjeira” esta surgiu de uma concessão imperial ao comerciante Thomaz Larangeira, que conseguiu por serviços prestados na “Guerra do Paraguai” sendo ele um colaborador fiel do império brasileiro fornecendo mantimentos entre outros itens para o exercito da “Tríplice Aliança” durante o conflito armado, com a vitória do Brasil e seus aliados o mesmo obteve certas regalias uma delas a criação de sua companhia ervateira.
Thomaz Larangeira desempenhou um papel importante na exploração de erva-mate no sul do Mato Grosso, mas sua primeira sede foi em Concepción, cidade do país vizinho Paraguai, onde sua Companhia, em meados de 1877, iniciava a exploração de erva-mate, mas com o passar dos anos ouve a necessidade de sua sede ser transferida para Porto Murtinho, com ampliação e a grande demanda, anos mais tarde foi transferida a sede para Guaíra (Paraná).
A Companhia foi a responsável pela fundação das cidades de Porto Murtinho-MS e Guaíra-PR, pois contribuiu para o desenvolvimento sócio econômico, gerando emprego e renda para tais localidades, tudo isso aconteceu em meios a críticas de fieis opositores da companhia e de Thomaz Larangeira, um dos motivos era por ele manter o monopólio em trono da exploração de erva mate, e muitas vezes acusado de impedir o real desenvolvimento da região, mas sendo ele a colaborar através de sua Companhia de erva mate, com a modernização das cidades uma delas podendo ser citada Ponta Porã, principalmente construindo prédios e escolas para uso público neste período histórico da formação da região sul de Mato Grosso.
Como o intervalo entre esses combates era muito curto, não havia tempo para esquentar a água, assim eles começaram a tomar frio e gostaram do sabor.
Existe outra versão que durante a Guerra do Chaco (entre Paraguai e Bolívia, 1932-1935), quando as tropas começaram a beber mate frio para não acender fogos que denunciariam sua posição, isso possivelmente ocorreu na região de fronteira em especial na cidade de Ponta Porã de (Mato Grosso do Sul), que na época da guerra da Tríplice aliança pertencia ao Paraguai. Já em uma versão paraguaia da origem do tereré, é a mesma diz respeito à mensú (escravos ervateiros do nordeste do Paraguai e da Argentina, até meados do século XX). Segundo a história de tal fato, eles foram surpreendidos pelos capangas (guarda costas seguidor leal) fazendo fogo para tomar mate e seriam brutalmente torturados, por isso escolheram se alistar em fileiras do exército paraguaio, introduzindo este costume.
Outra versão da origem é que os indígenas ao levarem o gado de um lugar para outro em comitivas, usavam a erva para coar a água dos rios, evitando, assim a doença barriga d’água. No entanto, crê-se que o tereré/têrere desde a invasão e colonização da América do Sul já era ingerido pelos índios Guarani e que por volta do século XVII os jesuítas aprenderam com eles as virtudes desta bebida refrescante e revigorante o mate (ka’a em guarani).
Os jesuítas elogiavam os efeitos da erva, que dava segundo relatos históricos dava muita força e vigor e matava a sede mais do que a água pura. A infusão é riquíssima em cafeína, daí o poder revigorante. Segundo alguns, os índios Guarani, além de tomar mate (ou tereré) usando como bombilho (canudo para chupar a infusão) ossos de pássaros e finas taquaras (pois ainda não existiam as bombas de metal), segundo historiadores os índios também fumavam a folha bruta da erva-mate e usavam-na como rapé.
Em Ponta Porã existe uma versão do sorvete de tereré, que faz sucesso no meio daqueles que apreciam e gostam de degustar e saborear essa bebida gelada em forma de bolas de sorvete. Sempre haverá versões sobre essa bebida, pois a mesma desperta curiosidade a quem não conhece e vem à fronteira. Onde existe uma roda de amigos e um dia quente é a oportunidade certa para se beber um bom tereré gelado, mas o importante é sempre manter viva essa tradição de amizade entre os povos irmãos da região fronteiriça. Resgatar fatos do cotidiano de um povo e despertar o interesse nas novas e futuras gerações.





