
Famoso quadro ‘Independência ou Morte’ do pintor Pedro Américo não retrata fielmente os fatos históricos.
O famoso quadro Independência ou Morte, assinado pelo pintor Pedro Américo, traz a seguinte cena: Dom Pedro I vestindo uma roupa luxuosa, montado em um cavalo, com uma espada embainhada quando declarou a independência do Brasil de Portugal.
A obra exposta no museu do Ipiranga foi uma encomenda, como explica o professor de História do colégio Rio Branco e coordenador do portal do Bicentenário, Pedro Castellan, “feita em 1888 pelo filho do monarca para exaltar a figura paterna, não há evidência histórica de que aquela cena ocorreu.”
“É uma construção de uma memória romântica, um herói que dá um grito libertador capaz de mover a História”, explica o professor de História da Oficina do Estudante, Marcus Vinicius Morais. “O quadro ficou tão conhecido que se tornou a própria memória da Independência no imaginário popular, as pessoas se lembram mais da cena representada no quadro do que dos acontecimentos.”
O processo da Independência não se encerrou no dia 7 de setembro e também não há registros de que houve um grito como o descrito pela História oficial. Como escreve a historiadora brasileira Lilia Schwarcz sobre a cena retratada no quadro de Pedro Américo: “Tudo nela é criação: a colina, as tropas, o gesto altivo de d Pedro I. De real apenas o riacho do Ipiranga onde, segundo os documentos, o protagonista precisava “apear-se” uma vez que não se encontrava com as funções intestinais normais. Outro aspecto correto é a ausência de povo. Para dar um jeito, Américo colocou do lado esquerdo um “caipira” observando a cena. Se nas demais independências latino-americanas o povo tomou parte, no nosso caso, as elites pretendiam deixá-lo bem longe e evitar comoções.”

Nas redes sociais, o Museu do Ipiranga justificou a liberdade artística de Pedro Américo: “O quadro Independência ou Morte, encomendado ao artista Pedro Américo e finalizado 66 anos após a Proclamação da Independência, é uma representação simbólica da cena, uma contribuição para a construção da nossa identidade nacional por meio da arte. Nem todos os elementos que o artista traz à tela, como a indumentária luxuosa, estavam presentes no momento em que D. Pedro I proclamou a separação entre Brasil e Portugal. Ainda que o artista tenha realizado minuciosas pesquisas para sua composição, ele nunca pretendeu reconstituir o que ocorreu. Na pintura, Américo mostra o que teria sido uma cena prosaica, segundo as testemunhas, a partir de uma perspectiva épica, inspirando-se em tradicionais pinturas de batalha europeias, que enfatizavam o lugar do herói.”

fonte: R7