ForSUAS completa um ano de atividades no Rio Grande do Sul

A ferida continua aberta e volta a doer a cada clarão no céu, anunciando tempestade, ou ao som das hélices de um helicóptero. O trauma da enchente de maio de 2024 se manifesta de formas diversas entre os moradores de Porto Alegre. Há um ano, a água das chuvas inundou a cidade e destruiu de um instante para outro o que milhares de famílias levaram anos para construir. Um episódio longo que fez vítimas e arruinou vidas.

O cenário era de emergência: não havia mais concreto para enxergar entre as vias, tudo foi coberto pela água. Em meio à calamidade que se formava na capital e que se estendia aos municípios do interior gaúcho, o Governo Federal criou a Força de Proteção do Sistema Único de Assistência Social no Rio Grande do Sul, a ForSUAS/RS.

Coordenada pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), a Força foi estruturada para atuar como suporte imediato na gestão da assistência social, com cooperação entre os entes federados. Um ano depois da tragédia, a ForSUAS continua em atividade no estado gaúcho e conta com um escritório na região central de Porto Alegre.

A ForSUAS chegou aqui como um meio de apoio a todas as políticas dos municípios e do estado. Veio com recursos, com equipe, com organização, veio transformando isso em protocolos, reforçando as capacidades das gestões”

Jeanine Godói, assistente social 

Durante o período agudo da enchente, a assistente social Jeanine Godói atuava na rede municipal de Esteio, distante cerca de 25 quilômetros da capital. Foi a primeira vez, enquanto servidora de um município, que a gente conseguiu enxergar um apoio tão forte e efetivo, tanto do estado quanto do Governo Federal”, afirmou.

“A ForSUAS chegou aqui como um meio de apoio a todas as políticas dos municípios e do estado. Veio com recursos, com equipe, com organização, veio transformando isso em protocolos, reforçando as capacidades das gestões”, prosseguiu a assistente social, que atualmente integra a equipe da ForSUAS pelo MDS.

Foram mais de 180 profissionais de diversos estados do Brasil e servidores do Governo Federal que se deslocaram das cidades de origem para atuar no território gaúcho, dentre estes, 52 especialistas que foram a campo.

Por meio da ForSUAS, foi realizada a mobilização e coordenação de recursos materiais, humanos e logísticos para enfrentar a situação de emergência no estado. As equipes atuaram diretamente no cadastramento das famílias, apoio técnico aos gestores municipais e gestão de recursos.

Cuidado e assistência

No arquipélago das Ilhas, a subsistência das famílias vem por meio da pesca e da reciclagem de materiais. A região também foi fortemente atingida.  “Eu estava ajudando e ao mesmo tempo preocupada se, na minha casa, ia entrar água. Foi difícil para todo gaúcho, bem difícil”, lembrou a psicóloga Elaine Zinn.

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Elaine Zinn, psicóloga do CRAS Ilhas (RS). Foto: Yako Guerra/ MDS

Elaine atua no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) Ilhas. Aos 60 anos, assistiu a estrutura em que trabalhava ser comprometida pela inundação e arrancar outro suporte de quem ficou ainda mais vulnerável com a enchente. Mas as equipes não pararam: mesmo diante do medo e da destruição, os atendimentos continuavam, até por ligação, mensagem – ou do jeito que era possível continuar naquele contexto.

“O CRAS também foi atingido, nós perdemos tudo. E ele é referência para as pessoas. Elas queriam contar sobre o que vivenciaram, queriam ajuda, queriam conversar. Havia muita gente para ser atendida”, contou a psicóloga. “Quando a ajuda chegou, foi importante, tanto no que se refere a abrigamento quanto ao cadastramento das famílias, muitas perderam tudo.”

Uma das famílias atendidas por Elaine é a de Márcia dos Santos, de 40 anos. Moradora da região das Ilhas, Márcia trabalhava como bombeira, mas teve que se afastar da profissão para cuidar da saúde mental, a partir do diagnóstico de transtorno depressivo e bipolaridade.

“Eu passei três dias e três noites com uma bermuda e uma camiseta, auxiliando nas buscas com meu marido. A gente estava ajudando, só que chegou uma hora que a gente teve que se ajudar. Não tinha como sair de onde a gente estava”, lembrou. “Eu parei numa esquina que tinha um repuxo, eu não consegui andar. E aí, bem na mesma hora, veio um rapaz de jet-ski e me levou primeiro, depois levou meu marido. Vocês não têm noção de como estava”, afirmou, com a memória ainda nítida.

‘Difícil’

Em outra área de Porto Alegre, Rosângela dos Santos desabafou: “Ainda passa a imagem na cabeça da gente sobre o que aconteceu, no dia da enchente.” Foram quatro dias sem luz e sem água. Então, a dona de casa de 42 anos tomou a difícil decisão de deixar o lar onde morava com os dois filhos. Tiveram que sair sobre barcos.

“A gente fez uma barragem nos dois becos de acesso de casa e, quando a gente viu, de manhã, inundou tudo”, recordou. A força e o volume da água não pouparam nenhum dos móveis que Rosângela adquiriu com muito esforço.  “Foi fogão, foi tudo. Eu não sei, parece que não tive coragem de olhar, quando eu voltei para tirar as coisas, porque não eram móveis mais, eram ‘coisas’ que eu tinha dentro de casa, parecia que foram engolidos e jogados”, contou.

‘Difícil’ é como Rosângela consegue descrever o período. “Foi difícil, foi um choque. Eu fiquei mais aliviada, porque eu estava contando com esse dinheiro que a gente ganhou dos benefícios. Eu jamais ia imaginar que aconteceria tudo isso”. A dona de casa refere-se ao recurso do Auxílio Reconstrução e ao pagamento unificado do Bolsa Família, duas medidas do Governo Federal para atender a quem foi afetado pelas enchentes.

A família está entre as contempladas pelo programa de transferência de renda no estado, que no último mês de maio chegou a 614 mil domicílios, cerca de 44 mil a menos que em junho de 2024. Todos os beneficiários dos 497 municípios gaúchos puderam acessar o recurso do Bolsa Família no primeiro dia de pagamento durante este um ano.

O MDS determinou que não era necessário esperar pelo escalonamento do calendário, conforme o último dígito do Número de Identificação Social (NIS) e também suspendeu ações de revisão e averiguação cadastral no estado.

Atuação

A ForSUAS começou no Rio Grande do Sul, instituída por meio de portaria uma publicada em 28 de maio de 2024. A iniciativa priorizou o auxílio aos atingidos e aos gestores locais, mantendo diálogo constante e em parceria com o estado e os municípios. Após a experiência exitosa em solo gaúcho, o MDS levou a ForSUAS para atuar em outras partes do país.

Em março deste ano, o Governo Federal instituiu a ForSUAS em âmbito nacional. Diante de desastres climáticos, situações de intenso fluxo migratório, ou de emergência em saúde pública, por exemplo, a rede socioassistencial pode ser afetada, além de ficar sobrecarregada.

Para apoiar na resposta humanitária imediata e na reconstrução desses equipamentos e serviços, os municípios e estados atingidos podem solicitar, por meio de um formulário simplificado, a atuação da ForSUAS. Com isso, são mobilizados recursos humanos, logísticos e materiais para reforçar equipes locais.

Atualmente, há equipes em Minas Gerais e no Ceará, além de profissionais atendendo os cidadãos deportados dos Estados Unidos, conforme o cronograma de chegada de voos. A ForSUAS também já atuou no Acre, Alagoas, Amazonas e Piauí, em alguns casos contando com a parceria da Agência da ONU para as Migrações (OIM), como no caso da Operação Raízes do Cedro, que repatriou 2.663 brasileiros e seus familiares do Líbano.

Assessoria de Comunicação – MDS

Fonte: Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome