Oficina do MJSP debate interculturalidade na política sobre drogas com indígenas

Mesa de abertura da oficina Cais Povos Indígenas, no Palácio da Justiça, com a presença de lideranças indígenas, representantes de organizações da sociedade civil e gestores públicos. Foto: Rodrigo Marfan/MJSP

Brasília, 02/07/2025 – Lideranças indígenas, representantes de organizações da sociedade civil e gestores públicos federais, estaduais e municipais se reuniram, nessa terça-feira (1º), para dialogar, trocar experiências e discutir diretrizes para políticas sobre drogas de atenção e cuidado específicas para povos indígenas. O encontro ocorreu no Palácio da Justiça, em Brasília (DF), e fez parte da programação da Semana Nacional de Políticas sobre Drogas, conduzida pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (Senad).

A proposta do Governo Federal é criar Centros de Acesso a Direitos e Inclusão Social na Política sobre Drogas (Cais) que atuem no acolhimento de indígenas tanto no contexto de seus territórios quanto em áreas urbanas, respeitando seus conhecimentos, espiritualidades e modos de vida. O primeiro Cais voltado especificamente para povos indígenas foi inaugurado em abril, em Tabatinga (AM), na tríplice fronteira com Peru e Colômbia.

A secretária da Senad, Marta Machado, destacou que o fortalecimento de políticas públicas voltadas a povos indígenas é uma das prioridades da atual gestão. “Desde o início, fomos provocados a pensar uma política de drogas específica para povos indígenas. E é esse o compromisso: pensar não só os Cais para territórios indígenas, mas também construir metodologias e estratégias para trabalhar com jovens indígenas e outras demandas que não se encaixam nas abordagens urbanas tradicionais”, afirmou.

Durante a oficina Cais Povos Indígenas: Interculturalidade e Intersetorialidade na Política sobre Drogas, o cacique Ninawa Inu, do povo Huni Kui, compartilhou a experiência de seu território no enfrentamento ao uso abusivo de álcool entre os jovens. “Conseguimos recuperar mais de cem jovens a partir do cuidado coletivo e das nossas medicinas. Hoje, mais de 90% do nosso povo não consome mais álcool. Eles voltaram a se orgulhar de quem são, com suas pinturas, seus cantos e suas tradições”, contou.

Ao longo do dia, a oficina aprofundou temas como os conhecimentos tradicionais e as tecnologias de cuidado adotadas nos territórios. Paula Gwyrapendu, do povo Tupi Guarani, refletiu sobre o papel do coletivo e da espiritualidade como ferramentas de fortalecimento comunitário e de redução de danos. Na sequência, Nadya Pitaguary, em participação on-line, destacou a força dos encantados no processo de cura e de acolhimento entre os Pitaguary.

Durante a oficina, também foram apresentados relatos de experiências com juventudes indígenas em uso problemático de álcool e de outras drogas, como o trabalho realizado pelo Centro de Trabalho Indigenista (CTI) com jovens Guarani, em São Paulo. A programação incluiu ainda a roda de experiência do Cais Povos Indígenas de Tabatinga (AM), conduzida por Delcilene Jovito e Camila Araújo.

Marta ressaltou que o cuidado com a juventude indígena e o enfrentamento das vulnerabilidades agravadas pelo uso problemático de substâncias psicoativas devem estar articulados a ações de geração de renda, de valorização da cultura e de fortalecimento comunitário. “A política de drogas precisa chegar a todos os territórios com escuta, acolhimento e respeito às culturas tradicionais. É um esforço de reunir muitas pontas: saúde, inclusão, alternativas econômicas e justiça social. E esse esforço só é possível com os saberes que vêm dos próprios povos”, disse.

A coordenadora da Estratégia Povos Indígenas na Política sobre Drogas na Senad, Lara Montenegro, completou ao dizer que o cuidado ofertado pelos Cais deve considerar as formas próprias de organização e espiritualidade dos povos originários. “Não se trata de aplicar um modelo pronto, mas de construir caminhos a partir da escuta, das práticas e da sabedoria dos territórios. Os Cais voltados aos povos indígenas têm o desafio de garantir acesso a direitos respeitando os modos de vida e a forma de organização de cada comunidade”, afirmou.

À tarde, os participantes se dividiram em grupos para refletir sobre os princípios de trabalho dos Cais para atuação com povos indígenas e propor ferramentas e metodologias interculturais para a redução de danos. Um debate sobre tráfico de drogas e desenvolvimento alternativo sustentável finalizou as atividades do dia.

Nos momentos de abertura e encerramento da Oficina, as lideranças indígenas presentes conduziram cantos e rezos de seus povos, expressões da espiritualidade indígena e importantes tecnologias adotadas como práticas de cuidado e acolhimento.

Fonte: Ministério da Justiça e Segurança Pública