Impacto imediato das novas tarifas norte-americanas
A recente decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de elevar para 50% as tarifas sobre uma série de produtos brasileiros provocou forte reação de setores produtivos e do governo federal. Embora o decreto traga uma lista de 700 exceções que contemplam segmentos como o aeronáutico, energético e parte do agronegócio, diversos setores estratégicos da economia brasileira foram diretamente afetados.
Entre os produtos sobretaxados estão carnes, café, frutas, máquinas e equipamentos, móveis, têxteis, calçados, plásticos, produtos químicos, tabaco, pneus, entre outros.
Setores calculam prejuízos com a nova política tarifária
Diversas entidades setoriais divulgaram estimativas do impacto financeiro que o tarifaço pode gerar:
- Carnes: Segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), a perda pode chegar a US$ 1 bilhão nas exportações de carne bovina para os EUA.
- Café: A Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) lembrou que os cafés brasileiros detêm 34% do mercado americano e podem redirecionar parte da produção.
- Frutas: A Abrafrutas alertou para graves impactos nas exportações de manga, uva e açaí, que representam 90% do volume exportado para os EUA.
- Máquinas e equipamentos: A Abimaq afirmou que o setor é responsável por 8% a 10% das vendas brasileiras aos EUA, com receita de US$ 3,6 bilhões em 2024.
- Móveis: A Abimóvel apontou risco de perda de até 9 mil empregos no país, devido ao aumento do custo final com a tarifa.
- Têxteis: Apenas cordéis de sisal ficaram isentos da tarifa. Segundo a Abit, os impactos serão severos na produção e no emprego.
- Calçados: A Abicalçados alertou para danos irreversíveis nas exportações e no emprego.
- Pescados: A Abipesca destacou impacto severo e imediato, especialmente em regiões onde a pesca é principal atividade econômica.
- Ferro e aço: O Instituto Aço Brasil apontou que as tarifas agravam o já delicado cenário global, com excesso de capacidade.
- Plásticos: A Abiplast afirmou que a tarifa torna inviáveis as exportações, afetando rentabilidade e empregos.
- Setor químico: A Abiquim disse que a medida compromete cadeias produtivas e os investimentos nos dois países.
- Tabaco: O SindiTabaco teme perda de competitividade no terceiro maior mercado de destino do produto.
- Pneus: A Anip, cujas exportações somaram 3,2 milhões de unidades em 2024, afirmou que empresas que produzem exclusivamente para exportar aos EUA serão fortemente impactadas.
Governo avalia cenário e prepara resposta
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, avaliou que o decreto foi “melhor do que o esperado” por incluir uma ampla lista de exceções, mas reconheceu que há “casos dramáticos” entre os setores prejudicados. Segundo o vice-presidente Geraldo Alckmin, cerca de 35,9% das exportações brasileiras para os EUA serão impactadas.
A Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil) estima que cerca de 10 mil empresas brasileiras serão afetadas, envolvendo 3,2 milhões de empregos no país.
Pedidos dos setores ao governo federal
Diversas entidades encaminharam sugestões e pedidos ao governo para tentar minimizar os efeitos do tarifaço. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) lidera as reivindicações com as seguintes propostas:
- Criação de linha de financiamento emergencial pelo BNDES para capital de giro com juros entre 1% e 4% ao ano;
- Ampliação do prazo de liquidação de contratos de câmbio de 750 para 1.500 dias;
- Prorrogação de prazos e carência de financiamentos de comércio exterior, como PROEX e BNDES-Exim;
- Aplicação de direito provisório de defesa antidumping;
- Adiamento de tributos federais por 120 dias, com parcelamento sem multas ou juros;
- Ressarcimento imediato de créditos tributários federais já homologados;
- Ampliação do programa Reintegra para 3% da alíquota nas exportações;
- Reativação do Programa Seguro-Emprego (PSE) com aperfeiçoamentos.
Outros setores também apresentaram demandas específicas:
- Abicalçados: Crédito para cobrir ACCs em dólar, liberação de créditos acumulados de ICMS e retomada do BEm;
- Abipesca: Crédito emergencial de R$ 900 milhões, com seis meses de carência e prazo de 24 meses;
- Abit (têxteis): Liberação de créditos tributários, postergação de impostos e retomada do Reintegra;
- Abiquim (químicos): Defesa antidumping, devolução de ICMS, Reintegra com alíquota de até 7% e linhas específicas de financiamento à exportação;
- Outros setores (carnes, café, aço, frutas, pneus, tabaco, etanol): Pedem que o governo continue negociando com os EUA para que sejam incluídos nas exceções tarifárias.
Medidas do governo em fase final
O ministro Fernando Haddad anunciou que o governo prepara um plano emergencial de proteção ao emprego e à produção, com previsão de lançamento nos próximos dias.
Segundo ele, as primeiras medidas estão sendo formatadas em parceria com o vice-presidente Alckmin e a Casa Civil. Entre as iniciativas, estão linhas de crédito específicas para setores mais afetados.
Há ainda a possibilidade de um novo programa de preservação de empregos, semelhante ao adotado durante a pandemia, no qual o governo federal arcava com parte dos salários dos trabalhadores para evitar demissões.
Haddad ressaltou que as medidas estão sendo desenhadas dentro do arcabouço fiscal, ou seja, sem violar o limite de gastos públicos nem a meta fiscal estabelecida.
“Entendemos que conseguimos operar dentro do marco fiscal, sem nenhum tipo de alteração”, afirmou o ministro.
A expectativa é que, com a articulação entre setores privados e o governo, sejam encontradas soluções para mitigar os impactos do tarifaço e preservar a competitividade da indústria e do agronegócio brasileiros.
Fonte: Portal do Agronegócio
Fonte: Portal do Agronegócio