Enquanto o mundo celebra a relevância do arroz em 30 de outubro, o setor produtivo brasileiro encerra outubro sob forte pressão. Dados do Rio Grande do Sul, responsável por quase 70% da produção nacional, apontam para 12 semanas seguidas de queda nos preços da saca de arroz em casca, agora negociada acima de 10% abaixo do preço mínimo oficial de R$ 63,64 por 50 kg. Hoje, o valor pago ao produtor ronda os R$ 56, evidenciando o desalinhamento entre custo e preço e agravando o cenário financeiro tanto para agricultores quanto para indústrias.
Esse movimento provoca dois efeitos de curto prazo: margens apertadas na lavoura e pressão por liquidez nos mercados. Endividados, muitos agentes acabam antecipando vendas para garantir caixa, acentuando o ciclo de baixa e dificultando qualquer recuperação imediata nos valores.
Diante desta crise, as políticas públicas vêm funcionando como suporte mínimo de garantia. Instrumentos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), como as Aquisições do Governo Federal (AGF), o Prêmio para Escoamento de Produto (PEP) e o Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural (Pepro), foram acionados para formar um piso operacional de preços e estimular o escoamento e formar um piso operacional de preços, ao menos até que os editais públicos ofereçam prêmios e condições atrativas. No entanto, estoques elevados nas indústrias e cautela dos atacadistas limitaram efetividade das compras oficiais, o sucesso depende do desenho técnico dos programas, prazos logísticos e valorização do prêmio para o produtor.
A safra 2025/26 se mantém em ritmo estável, com o plantio já cobrindo 46% da área estimada, acima do desempenho de 2024 e próximo da média dos últimos cinco anos. Isso mostra que, apesar da retração no preço, o produtor rural segue apostando na cultura, mas com margens cada vez menores e liquidez restrita. O resultado pode ser a formação de estoques elevados e dificuldade para precificação nos próximos meses.
No cenário internacional, há ainda o avanço do Uruguai, que plantou 90% da área projetada e se prepara para ofertar arroz competitivo ao mercado. O andamento acelerado da safra vizinha limita a margem de manobra para o Brasil usar as exportações como escape, exigindo esforço de comercialização e certificação de nichos especiais para buscar melhores preços.
Neste Dia Internacional do Arroz, o setor pede atenção: manter a produção e a tradição na mesa do brasileiro depende de medidas que garantam renda digna ao produtor e equilíbrio nos mercados regionais e globais.
Fonte: Pensar Agro


