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quinta-feira, 28 de março, 2024
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“Acampar sem perrengue é quase impossível”: veja dicas para evitá-los


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Acampar no meio do nada é para os mais experientes
Arquivo pessoal

Acampar no meio do nada é para os mais experientes



“Junte duas cadeiras, uma de costas para a outra, com um bom espaço entre elas, coloca um lençol em cima e pronto: está feita a cabaninha”. Brincar de acampar é algo que toda criança adora fazer, mas a maioria das pessoas não leva essa vontade para a fase adulta. Eu sempre quis ter a sensação de armar uma barraca em algum lugar, no meio da natureza, perto de um rio para sentir a vibração da natureza, mas não imaginava que fazer tudo isso resulta em uma boa dose de perrengue.

Minha amiga, Marcela Arribet, me convidou para passar o Ano Novo de 2014 para 2015 em um lugar completamente desconhecido para nós dois: um rolê “roats” onde várias pessoas acampariam no meio de umas montanhas em Heliodora, em Minas Gerais, lugar em que também teria festas para a galera. Achei uma excelente ideia porque não tínhamos nenhum plano.

O primeiro desafio era encontrar a barraca porque não a tínhamos. Pedimos emprestado a todos os amigos possíveis, mas ninguém tinha, então resolvemos comprar uma. O problema é que a gente resolveu fazer isso, literalmente, de última hora, e passamos na loja fantando 60 minutos para entrar no ônibus. Foi uma loucura! Olhamos todas as que pudemos no curto espaço de tempo e encontramos uma que era imensa, para quatro pessoas.

Percorremos os 250 km de distância (entre São Paulo e Heliodora) em pouco mais de três horas e chegamos lá à noite, mas a cidadezinha mineira é tão pequenininha (cerca de 7 mil habitantes) que não tinha um ser humano próximo à parada quando o ônibus chegou ali. Sem gente, comércio aberto, nada. Não tinha internet, nem sinal de telefone. Por sorte, encontramos um casal que estava indo para o mesmo lugar que a gente, que nos ofereceu carona em um táxi que eles já tinham reservado antecipadamente.

Eu imaginava que, chegando no local, teria uma estrutura enorme, com campings para colocar suas barracas, mas me enganei: era um lugar no meio do nada, um terreno gigante, com árvores espalhadas e ouvimos um “bom, agora vocês acham um lugar por aí e montem sua barraca”. Não tinha luz elétrica! Começamos a andar em uma trilha completamente escura, somente iluminados com a luz da lua, até que nosso casal-amigo disse “vamos armar a barraca aqui”. Sério, era no meio do nada, em um lugar que não era possível nem ver se era seguro. Com toda gentileza do mundo, esse casal (que até hoje não sei os nomes dos dois) nos ajudou a montar nossa barraca porque nunca tínhamos feito isso na vida e estávamos perdidos.

Quando arrumamos nossa “casinha”, chegou a hora de descobrir mais sobre o local: era uma espécie Woodstock, em que dezenas e dezenas de barracas se espalhavam por muitos lugares e os melhores, claro, já estavam todos ocupados. Possivelmente de pessoas que estavam acampadas ali há uma semana. Tinha gente de todo tipo, sexualidade, famílias inteiras e, o melhor, todo mundo vivendo em paz e harmonia. Era algo surreal para nós que tinha acabado de sair da maior cidade do Brasil.

O lugar tinha uma pequena propriedade, como se fosse uma pousada beeeeeem rústica, com uma área de alimentação que eles chamaram de restaurante. No almoço e jantar, eles vendiam um PF (prato feito) com um preço bem simbólico, R$ 7, que vinha arroz, feijão, uma carne e só. Próximo dali, havia uma piscina enorme feita com pedras e que era alimentada pelas águas de uma cachoeira que tinha próximo dali. Era tão grande, que algumas pessoas esticaram um equipamento de slackline e ficavam andando em cima dela. Também encontramos a “pista de dança” que era um espaço aberto entre as árvores, decorado com alguns objetos naturais, em que rolariam as festas até a virada do ano.

Um dos primeiros perrengues que passamos foi quando descobrimos que os banheiros eram coletivos e naturais: um buraco cavado na terra, com uma cabine feita de bambus lado a lado, uma porta de pano e um “vaso sanitário” quadrado, também feito de madeira, uma espécie de caixote furado em cima do buraco no chão. A descarga era um saco de serragem que ficava ao lado para você jogar em cima quando tivesse terminado de usar. Quando tivessem todas as cabines ocupadas, o jeito era ir no matinho mesmo…

Já não bastasse essa falta de privacidade, para tomar banho o acamper tinha duas opções: na cachoeira gelada ou nos chuveiros que vinham água da cachoeira, ao ar livre. Enfrentei esse desafio e tomei banho desse jeito mesmo, peladão, na frente de outras pessoas que estavam por ali.

Como dito anteriormente, comer no pequeno restaurante era só no almoço ou jantar e, no meio disso, você tinha de ter o seu lanche. Marcela e eu só tínhamos biscoitos e pacotinhos de amendoins. Foi isso que a gente comeu por quatro dias! E, não se esqueça, não existia opção de sair dali para comprar algo. Era no meio do nada!

A água do chuveiro vinha diretamente da cachoeira, bem gelada e com céu nublado
Arquivo pessoal

A água do chuveiro vinha diretamente da cachoeira, bem gelada e com céu nublado


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Céu estrelado e mundo sem status

Apesar dos perrengues, a viagem me despertou um desejo imenso em acampar cada vez mais porque estar perto da natureza, dormir e acordar no meio dela é uma sensação inexplicável. Literalmente renova as energias de qualquer pessoa.

Naquela “lil Woodstock”, conhecemos muitas pessoas e víamos o quanto a vida poderia ser mais simples, sem os status das roupas, sem a pressão do celular (que, naquela altura, tinha virado apenas uma mera câmera fotográfica), sem saber notícias do mundo exterior. Era mágico! Pessoas andavam nuas ou mulheres sem a parte de cima da roupa sem se preocuparem se estavam sendo vistas ou criticadas pelo corpo muito magro ou muito gordo. Ninguém olhava.  

A energia das festas em meio à natureza também dava um toque a mais na sensação de estarmos em outro mundo, um universo paralelo. Deitar no chão e olhar as estrelas em um lugar completamente longe da poluição e das luzes de São Paulo também era outra experiência inexplicável. Eu tinha a sensação de estar vendo as galáxias mais longínquas que o ser humano fosse capaz de observar a olho nu. Era inigualável.

Para quem deseja acampar pela primeira vez, aqui vão algumas dicas preciosas para não passar por grandes problemas:

– Escolha com muito cuidado onde vai acampar e como chegar lá. Para uma primeira vez, é recomendado um camping que já ofereça a infraestrutura de banheiros, chuveiro quente e energia elétrica para não se assustar logo de cara. Caso prefira enfrentar o mundo e armar a barraca em um local no meio da natureza bruta, é preciso ter cuidados redobrados e conhecer muito bem a área, inclusive sobre criminalidade, geografia e fauna local.

– Antes de embarcar, conheça muito bem como funciona sua barraca. O viajante precisa saber montá-la sozinho e estar munido de um bom canivete (para cortar folhas e galhos), papel higiênico, repelente e um kit de primeiros socorros.

–  Também é preciso levar comida e água o suficiente para passar todos os dias de acampamento. Dê preferência para alimentos não perecíveis e que, todo o líquido, de preferência, seja água. Ela é fundamental!

– Durante à noite, os lugares que têm uma natureza mais bruta costumam ser frios, principalmente fora do verão, então seria interessante levar um saco de dormir para se aquecer e tem um leve conforto.

– Para quem não quer perder nenhum clique das paisagens, leve um bom carregador portátil de celular, que tenha capacidade para duas ou três recargas. Ele também será muito útil como lanterna durante a noite.

– Dê preferência para chegar ao local de acampar durante o dia e, se possível, sem chuva. Ela pode triplicar as dificuldades para montar a barraca e organizar tudo.

– Um isqueiro é fundamental para acender um fogo que espanta insetos e aquece. Só precisa tomar muito cuidado para não deixar as chamas ficarem altas porque elas podem causar um incêndio nas árvores mais próximas.

*Felipe Carvalho é editor de turismo no Portal iG, já passou por veículos como Marie Claire, Glamour, UOL, Caras e O Fuxico e não se cansa de fazer viagens com perrengues.

Fonte: IG Turismo