A campanha tem como objetivo informar a população sobre os riscos da doença.
O mês de agosto é marcado pela campanha Agosto verde-claro, dedicada à conscientização e prevenção da leishmaniose, uma doença infecciosa grave causada por protozoários do gênero Leishmania. Transmitida principalmente pela picada do mosquito-palha (flebotomíneo), a enfermidade pode atingir tanto humanos quanto animais, sendo considerada uma zoonose de grande relevância para a saúde pública.
A campanha tem como objetivo informar a população sobre os riscos da doença, suas formas de transmissão, sinais clínicos e métodos de prevenção, reforçando a importância do diagnóstico precoce e do controle ambiental.
Para aprofundar o tema, a médica-veterinária, Isabel Rodrigues Rosado, mestre e doutora em Ciência Animal e que atua na Clínica Médica e Neurologia de cães e gatos no Hospital Veterinário da Uniube (HVU), compartilhou orientações sobre os principais sintomas, cuidados preventivos e desafios enfrentados no combate à leishmaniose.


O que é a leishmaniose e como ela é transmitida aos animais e seres humanos?
Isabel Rosado: A leishmaniose é uma doença infecciosa causada por um protozoário do gênero Leishmania, que pode provocar alterações no sangue e nas vísceras dos animais, como baço, fígado e rins. É uma enfermidade classificada como multissistêmica, pois afeta diversos sistemas do corpo — tanto em animais quanto em seres humanos. A transmissão ocorre por meio da picada do mosquito-palha (Lutzomyia longipalpis), que atua como vetor da doença.
Quais são os principais sinais clínicos da leishmaniose em cães e em quais fases eles costumam aparecer?
Isabel Rosado: Nos cães, os principais sinais clínicos da leishmaniose visceral incluem: anemia, queda de plaquetas, aumento do baço e do fígado, aumento de linfonodos e diversas manifestações cutâneas — como descamações, eritema (vermelhidão da pele) e úlceras, principalmente no plano nasal, ponta das orelhas e ao redor dos olhos. Além dos cães, a doença pode acometer gatos, equinos e até animais silvestres, como roedores, embora em menor frequência. O ser humano também está entre os possíveis hospedeiros.
Como os tutores podem proteger seus animais de forma eficaz contra a doença, especialmente em áreas endêmicas?
Isabel Rosado: Para proteger os animais, os tutores devem utilizar coleiras repelentes à base de deltametrina 4%, que evitam as picadas do mosquito. Também é recomendável evitar passeios nos horários de maior atividade do vetor, que possui hábito crepuscular — ou seja, está mais ativo ao amanhecer e ao entardecer. Outra medida de prevenção é o uso de repelentes próprios para pets e, quando possível, telas de proteção em canis ou ambientes de permanência dos animais. O mosquito-palha deposita seus ovos em matéria orgânica em decomposição, como folhas secas, fezes, restos de frutas e vegetação apodrecida. Por isso, manter os quintais limpos, sem acúmulo de detritos orgânicos, é essencial para evitar a proliferação do vetor.
Existe cura para a leishmaniose em cães ou o tratamento é apenas paliativo?
Isabel Rosado: Infelizmente, não existe cura parasitológica para a leishmaniose. Após o tratamento, os sintomas clínicos podem regredir, mas o protozoário geralmente permanece alojado em tecidos como o baço ou a medula óssea. Em casos de queda de imunidade, a doença pode ser reativada. Embora o tratamento de animais seja permitido, ele deve ser conduzido com acompanhamento veterinário rigoroso, além do uso contínuo de coleiras repelentes, trocadas nos prazos corretos. Isso porque, mesmo após a melhora clínica, o animal ainda pode representar risco de transmissão para o ser humano, caso seja picado por um mosquito que, em seguida, pique uma pessoa.
A vacinação contra a leishmaniose é segura e recomendada? Em quais casos?
Isabel Rosado: A vacina contra a leishmaniose passou por processos de suspensão de licença e, por isso, sua utilização está atualmente limitada. Mesmo quando disponível, sua eficácia é de cerca de 70% — o que reforça a importância de combiná-la, sempre, com outras formas de prevenção, como o uso das coleiras e cuidados com o ambiente.
Qual a importância da campanha Agosto Verde-Claro para a saúde pública e para a conscientização da sociedade?
Isabel Rosado: A campanha Agosto Verde-Claro tem como foco justamente a difusão de informações sobre a doença, seus sintomas, formas de transmissão e medidas de prevenção — tanto nos animais quanto no ambiente.
Quais são os principais desafios enfrentados hoje no combate à leishmaniose no Brasil?
Isabel Rosado:Um dos principais desafios enfrentados no Brasil no controle da leishmaniose é a falta de higiene ambiental. A presença de matéria orgânica em quintais e terrenos baldios, aliada ao aumento populacional de cães (muitos deles não domiciliados ou sem vigilância adequada), favorece a disseminação do vetor. A guarda responsável também é um ponto de atenção: tutores que não mantêm seus animais em ambientes seguros contribuem involuntariamente para a propagação da doença.
Fonte: Universidade do Agro