A seis meses da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada em Belém (capital do Pará), o agronegócio brasileiro tenta se firmar não apenas como um setor afetado pelos impactos ambientais, mas também como parte das soluções globais para conter a crise climática. A posição foi formalizada em um documento divulgado nesta segunda-feira (11.08) pela Associação Brasileira do Agronegócio (Abag).
No texto, o setor defende que práticas agrícolas adaptadas ao clima tropical e o uso eficiente de recursos naturais podem reduzir emissões de gases de efeito estufa e, ao mesmo tempo, garantir a segurança alimentar mundial. Para que isso avance, a entidade cobra destravamento do crédito rural e investimentos em inovação, como sementes mais resistentes a extremos climáticos e manejo sustentável do solo.
Um dos pontos centrais da proposta apresentada é a adaptação das regras do mercado de carbono à realidade brasileira. A Abag argumenta que metodologias globais precisam reconhecer as especificidades da produção nacional para que projetos rurais possam gerar créditos com credibilidade internacional. A expectativa é que a COP30 seja usada como vitrine para mostrar avanços em regulamentação, sistemas de registro e tecnologias ligadas à agricultura de baixo carbono.
Segundo o documento, o encontro em Belém representa uma oportunidade para o Brasil assumir liderança global no tema, atraindo investimentos e demonstrando que o agro pode conciliar produção e mitigação de emissões.
Apesar do discurso, o setor ainda enfrenta resistência no cenário internacional. Relatórios recentes do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), da ONU, apontam que o modelo predominante no Brasil contribui para problemas ambientais significativos, como desmatamento, perda de biodiversidade, emissão de metano pelo gado e expansão de monoculturas.
Essas críticas desafiam a imagem que o agronegócio tenta construir para a COP30, sobretudo diante do histórico de pressão sobre biomas como Amazônia e Cerrado.
No plano interno, o peso do setor é inegável. Estimativas da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) em parceria com o Cepea/USP indicam que, em 2025, o agronegócio deverá responder por quase 30% do PIB brasileiro. Na prática, isso significa que de cada R$ 10 movimentados na economia, quase R$ 3 têm origem direta ou indireta no campo.
O Brasil lidera exportações globais de soja, milho, café, carne bovina, celulose e suco de laranja, além de ocupar a vice-liderança mundial na produção de etanol. O país concentra ainda 25% da capacidade mundial de processamento de carne bovina, o que reforça sua relevância tanto na balança comercial quanto no abastecimento global.
Com a população mundial estimada para crescer 20% até 2050, a demanda por alimentos, água e energia tende a aumentar de forma expressiva. Nesse cenário, o Brasil se coloca como fornecedor estratégico, mas também como protagonista em temas como biocombustíveis, genética animal, recuperação de pastagens e digitalização do campo.
Para investidores, esse protagonismo transforma o agro em ativo relevante não só na produção rural, mas também no mercado financeiro, por meio de empresas listadas na bolsa que prometem retorno via valorização e dividendos.
Entre a imagem de motor econômico e as críticas ambientais, o agronegócio chega à COP30 tentando equilibrar reputação e resultados. Se, de um lado, busca atrair recursos e reforçar seu papel como aliado na agenda climática, de outro terá de responder a pressões internas e externas sobre desmatamento e emissões. A forma como o Brasil se apresentará em Belém poderá definir se o setor será visto como parte da solução ou como obstáculo na transição para uma economia de baixo carbono.

Isan Rezende
Isan Rezende é presidente da Federação de Engenheiros Agrônomos de Mato Grosso (Feagro/MT) e do Instituto do Agronegócio (IA), lembra que o setor não pode ser visto apenas pelos desafios ambientais, mas pela sua dimensão estratégica para o Brasil e para o mundo, tanto na geração de alimentos quanto na preservação dos recursos naturais.
“O agronegócio brasileiro é um dos maiores patrimônios do país. Não estamos falando apenas de produção de alimentos, mas de um setor que responde por quase um terço da riqueza nacional e que garante competitividade internacional ao Brasil. Essa força traduz-se em geração de emprego, renda e inovação tecnológica, fazendo com que o campo seja motor de desenvolvimento e segurança alimentar para milhões de pessoas”.
“Na COP30, o Brasil tem a oportunidade de mostrar que o nosso agronegócio é, ao mesmo tempo, gigante e responsável. O mundo precisa reconhecer que somos líderes em práticas sustentáveis em regiões tropicais, recuperando áreas degradadas, reduzindo emissões e investindo em biocombustíveis e genética animal. O agro brasileiro não é parte do problema climático: ele é parte da solução”.
“É preciso reforçar que a preservação ambiental caminha junto com a produção. Quando adotamos tecnologias de baixo carbono, quando ampliamos a produtividade sem avançar sobre novas áreas e quando participamos ativamente do mercado de carbono, mostramos que é possível produzir mais e melhor, respeitando os recursos naturais. Esse é o futuro que queremos apresentar ao mundo na COP30: um agronegócio grandioso, moderno e comprometido com o meio ambiente”.
Fonte: Pensar Agro