Alckmin conversa com representante de Trump sobre tarifaço: ‘Reunião proveitosa’

Alckmin comanda negociações do Brasil com os EUA: "empenhados em evitar tarifa" Valter Campanato/Agência Brasil

Indicado por secretário de Comércio norte-americano, participante não teve o nome divulgado; Brasil tenta negociação a 3 dias da taxa.

O vice-presidente, Geraldo Alckmin, reuniu-se nesta terça-feira (29) com um representante dos Estados Unidos para discutir a taxa de 50% imposta pelo presidente Donald Trump.

O norte-americano participou, por videoconferência, de encontro de Alckmin com integrantes de grandes empresas de tecnologia, as chamadas big techs.

A tarifa a todos os produtos brasileiros comprados pelos EUA começa a valer na próxima sexta-feira (1º).

O governo federal não vai divulgar o nome do norte-americano — a informação não está na agenda pública do vice-presidente. A indicação do representante foi feita pelo secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick.

“Reunião proveitosa”, declarou Alckmin a jornalistas após o encontro. Segundo o vice-presidente, deve ser criada uma mesa de trabalho para discutir questões ligadas às big techs, como ambiente regulatório, segurança jurídica, inovação tecnológica e oportunidades econômicas.

Participaram da reunião representantes da Meta, empresa dona do Facebook, Instagram e WhatsApp, da Amazon, Apple, Visa e Expedia.

A situação das big techs no Brasil foi um dos argumentos apresentados por Trump ao anunciar a taxa de 50%. Segundo o republicano, ocorre uma suposta censura à atuação das empresas.

Na avaliação de Alckmin, a regulação das plataformas digitais é uma “pauta importante”. “Está em discussão no mundo todo. Vamos aprender onde já foi implementado. Não devemos ter pressa, [mas] comparar a legislação equiparada. Estamos propondo uma mesa de trabalho para verificar as pautas das big techs”, acrescentou o vice-presidente.

Taxação

Em relação à taxa de 50%, Alckmin reforçou que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva segue “empenhado” em reverter a decisão de Trump.

“Estamos empenhados em evitar que tenha a tarifa totalmente injustificada de 50%. Não há nenhuma justificativa”, criticou.

Após o anúncio de Trump, em 9 de julho, Lula determinou a criação de um comitê interministerial para discutir a tarifa.

O grupo de trabalho é chefiado por Alckmin, que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Desde a criação, o comitê tem discutido com empresários e setores mais afetados pela decisão de Trump.

Segundo o vice-presidente, o plano de contingência, em elaboração pelo Brasil, só deve ser anunciado na sexta-feira.

“Está sendo bem trabalhado, mas só deve ser discutido se consumada a questão dos 50%. Não vamos esmorecer, vamos trabalhar permanentemente para resolver a questão”, afirmou.

Tarifa zero

 Mais cedo nesta terça, o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, declarou que o país pode aplicar tarifa zero a produtos não produzidos nos EUA, como cacau, manga, café e abacaxi.

Lutnick não citou o Brasil — no entanto, os EUA são os maiores compradores do café brasileiro e têm participação significativa na aquisição de cacau (leia mais abaixo).

“O presidente [Trump] incluiu que, se você cultivar algo e nós não cultivarmos, isso pode chegar a zero. Portanto, se fizermos um acordo com um país que cultiva manga ou abacaxi, eles podem entrar sem tarifa. O café e o cacau seriam outros exemplos de recursos naturais”, declarou o secretário em entrevista ao canal de TV norte-americano CNBC.

Lutnick reforçou, ainda, que a vigência da tarifa imposta por Trump ao Brasil começa na data prevista. “Para o resto do mundo, teremos tudo pronto até sexta-feira”, acrescentou.

Sobre a declaração do norte-americano, Alckmin destacou que o governo trabalha para que “a diminuição da alíquota seja para todos. ”Não há justificativa ter alíquota de 50%“, opinou, acrescentando que o comércio brasileiro com os EUA é superavitário, ou seja, o Brasil vende mais aos Estados Unidos do que compra.

“Queremos avançar em todas as convergências. Temos muito mais convergências do que divergências. Não há razão para tarifas. Podemos sair de um perde-perde, que também não é bom para os EUA”, concluiu o vice-presidente.

Café e cacau

Segundo dados do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), os Estados Unidos são os maiores compradores de café do Brasil — tanto do item torrado quanto do não torrado.

Apenas em junho, os EUA adquiriram 15,9% do café não torrado vendido pelo Brasil, um total de US$ 148,2 milhões.

Também no mês passado, no caso do café torrado — modalidade que inclui extratos, essências e concentrados de café —, os Estados Unidos compraram 23,4% do que foi produzido pelo Brasil: US$ 21 milhões.

Os EUA também têm participação importante na compra do cacau brasileiro. Em junho deste ano, o país foi o maior comprador de cacau em pó, manteiga ou pasta de cacau, com 42,6% de participação (US$ 22,5 milhões).

Com relação ao chocolate e a outras preparações alimentícias oriundas do cacau, os Estados Unidos (12,2%) foram o segundo maior destino no mês passado, atrás apenas da Argentina (27,2%). O valor total das compras chegou a US$ 2,4 milhões.

Frutas

A participação dos EUA no mercado brasileiro de mangas e abacaxis é menos significativa do que o fluxo de café e cacau.

Em 2024, os Estados Unidos foram o 17º maior comprador de abacaxis frescos ou secos, de acordo com números da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Foram 1,7 mil toneladas adquiridas, um total de cerca de US$ 4,1 mil.

Também segundo a Embrapa, em junho deste ano, os EUA compraram cerca de 0,6% da manga exportada pelo Brasil, a oitava maior porcentagem. Países como Holanda (52%), Portugal (9%), Reino Unido (5,6%), Argentina (2,7%), Coreia do Sul (1%) e Chile (1%) tiveram participação maior do que a norte-americana.

Relembre

Em 9 de julho, Donald Trump anunciou que vai cobrar 50% de todos os itens do Brasil comprados pelos EUA a partir de 1º de agosto.

Segundo o republicano, a medida é uma resposta direta a supostos ataques do Brasil à liberdade de expressão de empresas norte-americanas e à forma como o país tem tratado o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Além de inelegível até 2030, o ex-presidente é réu no STF (Supremo Tribunal Federal) por tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito.

Para o líder norte-americano, o julgamento e as investigações que envolvem o ex-presidente brasileiro configurariam uma “caça às bruxas” que deveria “terminar imediatamente”.

Fonte: R7