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quarta-feira, 24 de abril, 2024
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Artigo: Passando a boisada na saúde

Quanto mais avança a CPI da COVID, mais fica clara a responsabilidade direta do Presidente Bolsonaro no agravamento da pandemia. Sua centralização das decisões, compartilhadas apenas com um “gabinete secreto”, tem sido desastrosa desde o começo da crise.

Durante o atual governo, passaram pelo Ministério da Saúde quatro ministros, contando com o atual. Os dois primeiros, Mandetta e Nelson Teich, renunciaram declarando incompatibilidade com as orientações do Planalto, especialmente quanto ao tratamento precoce com a Cloroquina. O ministro Pazuello em seu depoimento na CPI, admitiu que as questões estratégicas do ministério já vinham empacotadas pelo escandaloso gabinete paralelo, para serem cumpridas sem discussão. “Um manda o outro obedece” docilmente admitiu.  O atual Ministro Marcelo Queiroga esgueira-se com mil cuidados para não contrariar os desejos do Planalto. O resultado disso é que o país navega sem bússola na politica de saúde e nas orientações quanto à pandemia.

Na raiz de tudo está o negacionismo. Tosco, o Presidente não acredita na ciência. Repudia a vacina e as medidas preventivas e preconiza a solução natural de imunização de rebanho, pelo aumento da contaminação. Com isso atende também o interesse econômico, valorizando-o em relação às vidas humanas.

O conceito de imunidade de rebanho, ou comunitária, diz respeito a uma situação em que se atinge um ponto em que há uma quantidade suficiente de pessoas imunes ao vírus, o que interrompe a transmissão comunitária. Com menos indivíduos suscetíveis ao vírus, ele vai aos poucos deixando de circular. Forma-se uma espécie de “cordão natural” de isolamento.

Há duas formas de atingir essa imunidade. Por vacinação ou por contaminação natural, esta última preconizada pelo Presidente. Pela vacinação se exigiria cerca de 70% da população vacinada. Atingir tal índice pela forma natural iria nos custar a morte de entre 1,5 milhão a dois milhões de pessoas. Segundo a comunidade científica, essa opção deve ser rechaçada, pois é antiética, devido ao grande saldo de vítimas que pode gerar. “Criminoso” e “genocídio” são as palavras usadas pelos especialistas. Apesar disso, bolsonaristas com cabresto e buçal, na maior cara dura, teimam em defender que a morte de 1,5 milhões não representa nada diante da nossa população de mais de 213 milhões de pessoas.

Hoje, se entende que é um crime defender imunidade de rebanho por infecção natural da doença. Se a gente normaliza isso, vamos normalizar mais mortes, mais demanda hospitalar. Nenhum país sério considera essa teoria. Nem com gado se opta por essa via.

Diante desse pano de fundo se entende todo o comportamento do Presidente e do Ministério da Saúde.

O presidente primeiramente negou a doença, chamou de “gripezinha”, depois foi contra o isolamento, o lockdown, depois minimizou o uso da máscara e estimulou aglomerações. Receitou remédios comprovadamente ineficazes, insistiu no “kit Covid” e comportou-se com negligência na compra de vacinas, inclusive criando desastrosos atritos ideológicos com a China, nosso maior fornecedor.

Bolsonaro nunca quis comprar vacinas. Só mudou de postura, por razão eleitoral, diante das iniciativas do governador Dória, quando começou a ficar isolado na opinião pública. Daí a nossa situação de mais de 445 mil mortos e cerca de dois mil mortos por dia.

Essa é a história da pandemia entre nós. Na mesma lógica de “passar a boiada” do ministro Salles, Bolsonaro enquanto enganava os tolos com a Cloroquina e a Ivermectina foi mandando os brasileiros para o matadouro. “Gado a gente marca, tange, ferra engorda e mata, mas com gente é diferente”.

Maria Augusta S. Rahe Pereira (médica)

Fausto Matto Grosso (Engenheiro de professor aposentado da UFMS)