Se um serviço lhe é oferecido gratuitamente, você é o produto. Essa frase é uma velha conhecida de usuários da internet em todo o mundo – e não é à toa: a economia dos grandes buscadores de internet e redes sociais, que se consolida cada vez mais como base da economia mundial das comunicações trata os dados pessoais como uma matéria prima valiosa, mas nem sempre com a devida responsabilidade que deveria ser tratada.
A incessante coleta de dados e a forma como essas informações são tratadas por terceiros, nem sempre de maneira transparente e ética, se tornaram ainda mais evidentes no incidente de manipulação em massa por meio do Facebook pela empresa Cambridge Analytica, em 2018. Apesar de o escândalo ter motivado mudanças importantes na política no Facebook, as empresas de serviços digitais ainda dependem muito do rastreamento de dados de navegação dos usuários para funcionar comercialmente.
Pior do que isso, a venda de dados para terceiros é uma situação comum e que, muitas vezes, passa despercebida na hora da leitura dos termos e condições de adesão a serviços de todo tipo. Diante disso, de que maneira é possível manter a identidade e os dados pessoais mais seguros no ambiente online?
Privacidade e segurança digital
Resguardar a privacidade e a segurança em um ambiente digital depende em grande parte da capacidade das pessoas de gerenciar a própria pegada digital. O conceito de pegada digital consiste em tratar as postagens e demais informações compartilhadas no ambiente virtual como uma espécie de “rastro”, que pode ser seguido publicamente.
Embora seguir esse rastro nem sempre seja simples ou provável, perseguidores determinados e cibercriminosos muitas vezes encontram meios de fazer isso. É justamente essa capacidade que faz com que cuidados sejam necessários, especialmente em situações como ao realizar compras online, compartilhar fotos e vídeos em redes sociais, trocar mensagens também em redes sociais ou mesmo ao postar, comentar ou atribuir curtidas nessas e em outras plataformas, como o YouTube e sites de mídia. Você acredita que alguém conseguiria identificar seus filhos publicamente a partir de uma foto que você postou no Instagram? Se sim, é melhor pensar duas vezes antes de fazer a postagem, por exemplo.
Além dessa importante consciência de que nossos passos podem ser rastreados e de que alguém pode estar de olho nas informações e opiniões pessoais que compartilhamos abertamente, outros tipos de cautela podem ajudar a restringir a pegada digital.
Genericamente falando, para navegar na internet, podemos usar navegadores ou aplicativos. Quem opta por navegadores e deseja manter a sua privacidade protegida, deve alterar as configurações de seu navegador escolhido.
A primeira coisa a ter em mente é que o navegador mais seguro é o Tor. Porém, ele é bastante lento e não muito prático, o que faz com que ele seja impraticável para muitas pessoas. Para essas pessoas, é sensato buscar navegadores que privilegiam o controle da privacidade online.
O navegador Brave, por exemplo, permite bloquear anúncios. Diversas extensões do Google Chrome também aumentam esse tipo de proteção no navegador. Além disso, apagar cookies regularmente evita o rastreamento da navegação. Outra maneira de evitar isso é usar o modo de navegação privada ou anônima, que também reduz a quantidade de informações coletadas na internet.
Ferramentas como a VPN (“Virtual Private Network”, ou “Rede Privada Virtual”, em português) também oferecem o grande benefício de zelar tanto pela privacidade virtual quanto pela cibersegurança. As principais vantagens de conectar-se a uma VPN no Brasil são esconder o endereço de IP, que permite que cibercriminosos saibam a localização geográfica do acesso a provedores de internet; e a criptografia de comunicações por meio de um servidor privado. Além dessas vantagens, que protegem o assinante do serviço dos perigos da rede pública, os melhores serviços de VPN também oferecem bloqueadores de anúncios.
Esses bloqueadores evitam aquelas tão inconvenientes e indesejadas interrupções durante a navegação pela internet. Isso inclui a coleta de cookies e de informações de tráfego por meio de propagandas e scripts, geralmente feita de maneira oculta. Além disso, bloqueiam ameaças como adwares em sites menos seguros – afinal, nunca se sabe se as páginas que visitamos ocultam esse tipo de ameaça, por mais cautelosos que sejamos.
A moderação dos hábitos de postagem na internet é uma mudança de cultura essencial, que pode prevenir muitos danos e evitar o ataque à privacidade virtual. Essa mudança nem sempre será simples, já que os estímulos para o compartilhamento de estilo de vida atualmente podem variar da recompensa em dinheiro até a possibilidade de exclusão social.
Entretanto, um exercício saudável que pode ser feito antes de qualquer postagem em rede social é imaginar o que já mencionamos antes nesse artigo: se meu perfil é público, quem pode ver essa informação? O que as pessoas poderão fazer com ela? Elas poderão deduzir mais informações sobre o meu cotidiano a partir disso que eu vou compartilhar? Para fazer postagens que envolvam a identidade de membros da sua família, considere fechar seu perfil somente para seguidores conhecidos.
Sem querer ser pessimista, há ocasiões em que já não é possível trazer de volta aquilo que se perdeu – no caso, a privacidade virtual. Felizmente, existem serviços de remoção de dados para essas circunstâncias.
Serviços especializados conseguem reduzir a pegada digital dos usuários identificando dados pessoais na rede pública e eliminando-os. Alguns exemplos são DeleteMe, Optery, Incogni e DeleteMescrubs. A maioria deles são serviços pagos, que criam uma lista de sites que provavelmente detêm suas informações pessoais. Em seguida, eles solicitam a esses sites que apaguem as informações.
Esses dados podem ser de vários tipos: informações de contato pessoais, informações financeiras, atividades em redes sociais, atividades e histórico de compras na internet, histórico de busca, dados de localização geográfica, biometria e até registros médicos. Embora nenhum serviço consiga remover todos os dados com absoluta certeza, a “opção nuclear” de contratar esse tipo de serviço pode ser uma luz no fim do túnel para restabelecer um pouco de privacidade digital quando tudo parece já estar perdido para cibercriminosos.