Além das mortes, alguns jacarés do recinto que leva o nome de “Almir Sater” teriam ficado mais agressivos e até partido para cima de tratadores.
Vítimas de um mesmo problema, três jacarés morreram no Bioparque Pantanal, em Campo Grande (MS), nos últimos meses. De acordo com nota técnica enviada ao Jornal Midiamax, os exemplares da espécie Caiman yacare (jacaré-do-pantanal) não resistiram às complicações de uma doença renal crônica (DRC), enfermidade degenerativa e progressiva.
Além das mortes, alguns jacarés do recinto que leva o nome de “Almir Sater” teriam ficado mais agressivos e até partido para cima de tratadores. Contudo, o Bioparque Pantanal nega essa informação, mas confirma que o plantel foi substituído por animais juvenis de outro criador local.
Em relação aos répteis que vieram a óbito em decorrência da doença renal crônica, Edson Pontes, médico-veterinário e responsável técnico do complexo, esclarece que a enfermidade é observada com frequência crescente em répteis sob cuidados humanos, especialmente nos que estão em estágios avançados da vida.
“Em crocodilianos, como o Caiman yacare (jacaré-do-pantanal), a fisiologia renal é altamente dependente de fatores como termorregulação eficiente, hidratação adequada e dieta equilibrada”, pontua o profissional em documento enviado à reportagem.

Necropsia revelou lesões crônicas em jacarés
Porém, apesar do Bioparque oferecer essas condições, os três animais apresentaram precocemente sinais clínicos compatíveis com DRC, incluindo letargia, redução de apetite, perda de condição corporal e desidratação recorrente, ainda que sob manejo adequado.
Em episódios isolados, os jacarés que vieram a óbito também apresentaram manifestações neurológicas e respiratórias associadas à uremia, que consiste no acúmulo de resíduos no sangue por conta da insuficiência renal.
“A necropsia revelou lesões crônicas compatíveis com falência renal avançada, como fibrose renal e deposição de urato em vísceras (gota visceral)”, relata o veterinário.
Doença acometeu apenas três jacarés e pode ser genética da ninhada
O profissional destaca que todos os animais do plantel compartilhavam o mesmo ambiente, recebiam a mesma alimentação e estavam expostos às mesmas condições físico-químicas da água, mas a doença acometeu apenas três indivíduos provenientes da mesma ninhada.
“Essa restrição sugere fortemente a possibilidade de uma causa congênita, possivelmente de base genética, como já relatado em diversas espécies exóticas e domésticas”, explica.
Edson ainda detalha que doenças renais hereditárias geralmente se manifestam de forma precoce, são progressivas e apresentam baixa responsividade terapêutica. “Em répteis, essas enfermidades são plausíveis e devem ser consideradas sempre que houver padrões familiares recorrentes sob condições de manejo uniformes”, conclui a nota técnica.

Jacarés-do-pantanal
De acordo com o Bioparque Pantanal, o jacaré-do-pantanal pode ser encontrado desde o norte da Argentina até o sul da Amazônia, mas principalmente no Pantanal. Podem chegar até 3 metros de comprimento, e de janeiro a março constroem ninhos com folhas e plantas, onde depositam de 20 a 30 ovos.
Alimentam-se de caranguejos, caramujos, insetos, peixes e outros vertebrados aquáticos. A caça clandestina, a seca, as queimadas e os atropelamentos são sérias ameaças ao jacaré-do-pantanal.
Fonte: Midiamax