Extremum hunc,Carmen,mihi concede laborem, por Rosildo Barcellos

Rosildo Barcellos

Estaria, tal insígnia,
estrela do ócio,
que floresce, espalha e acalenta,
vagueando docemente
pelos jardins em poesia.

Um sentimento ardente,
de expressão ávida
e toque cálido,
onde reside o calor,
de velada ousadia.

Seus registros,
impressos com certa polidez
no papel carbono,
acalentam os dias,
apesar do sopro,
constante e contumaz,
de um sereno frio de outono.

                                                          “Estrela do ócio” – Carmen Eugênio

 A quietude é cortada por esse clarão que desperta corações adormecidos. É o grande chamado de Deus. É a grande renovação das criaturas que não conseguem permanecer alheias ao grande espetáculo do universo. É o que certamente diria  Nildes Tristão, ao ler este poema.

 A poesia é advinda por demasiados caminhos, muito desses caminhos não são nada complacentes, são tortuosos, são inconsoláveis, para quem pretende segui-los. O poema acima faz parte do livro “Estrela do Ócio”, escrito na fase de pujança do Covid. E tem em seu bojo a desaceleração de vida a que todos nós fomos subjulgados. Não obstante desde a revolução industrial, trabalhar demasiadas cargas horárias era sinônimo de sobrevivência. Hoje na modernidade as coisas pouco mudaram. Será que nesta época atual, com tanta tecnologia ao dispor do ser humano é possível se pensar em ócio?

 Ócio advém do latim Otium que significa lazer e descanso. Segundo Bertrand Russell (1872/1970), em sua obra O Elogio ao Ócio, o ócio deveria ser valorizado, pois com a potencialidade tecnológica que o mundo moderno possui, poderiam as pessoas tranquilamente ter um uma jornada diária de 4 horas de trabalho sem redução de salário, sendo que as horas restantes do dia caberiam para a convivência familiar, social, e proporcionariam lazer, como também atividades agradáveis ao intelecto

Qual seria então o papel da poesia, em forma de canto dialogado, da escritora Carmen Eugênio, diante dos demasiados problemas da vida, senão quebrar os grilhões que aprisionam a liberdade cândida de um pensar apanagiante assisado na altivez da mente humana? Será que a poesia nos exige um alto preço durante uma vida aliada a um contínuo processo de envelhecer? Estaria, tal insígnia, estrela do ócio, que floresce, espalha e acalenta, vagueando docemente pelos jardins em poesia?

 Enfim, a ativista cultural Carmen Eugênio faz com que simples vernáculos se transformem em figuras de harmonia, de construção, de pensamento, tropos, figuras de transposição e alusões de sentimento a flor da pele. E por derradeiro a poetisa peço: “Extremum hunc,Carmen,mihi concede laborem” Condcede-me Carmen meu último labor e deixe-me perpetuar em minha escrita, num encômio perpétuo, a profícua beleza de seus versos…

*Articulista