Fechamento do Estreito de Ormuz pode inflacionar fertilizantes e pressionar custos no Brasil, mostra estudo do Rabobank

A “rodovia de nutrientes” no Golfo Pérsico

Com apenas 40 km em seu ponto mais estreito, o Estreito de Ormuz concentra gargalos cruciais para o agronegócio: por ali passam cerca de 45 % das exportações globais de ureia, além de volumes expressivos de fosfatos, amônia e enxofre. Catar, Irã, Emirados Árabes, Bahrein, Arábia Saudita e Omã são responsáveis por até 30 %–35 % da ureia vendida ao mundo, tornando a rota indispensável ao abastecimento mundial.

Brasil e Índia são os mais expostos

Países com grande déficit produtivo sentiriam primeiro o choque de preços. O Brasil importa 7,5 a 8,5 milhões t de ureia (mais de 90 % do que consome) e a Índia traz de fora 7 a 11 milhões t por ano. A demanda brasileira cresce justamente de junho a novembro — mesmo período em que os preços no atacado costumam atingir o pico —, o que amplia o risco para a safra de milho safrinha.

Ureia lidera as preocupações imediatas

No curto prazo, o segmento nitrogenado seria o mais prejudicado. Um bloqueio total poderia dobrar o preço da ureia no Brasil em três meses; num cenário parcial, o avanço ainda superaria 30 %. A escassez também respingaria em produtos que dependem de amônia, como MAP e DAP.

Fosfatos e enxofre entram no radar

Além da ureia, 20 % das exportações globais de DAP, 10 % de MAP e até 30 % do enxofre atravessam a mesma rota. A Arábia Saudita, que triplicou vendas de fosfatos aos EUA nos últimos anos, veria sua logística travada. Consequência: preços já altos poderiam subir mais, num efeito cascata que vai da Ásia ao Norte da África.

Cenários de preço: parcial × total

Modelagem do Rabobank aponta que:

  • Fechamento parcial
    • Ureia: +35 % no Brasil e +25 % na Índia em três meses
    • Fosfatados: até +15 % nos principais importadores
  • Fechamento total
    • Ureia: >100 % no Brasil e >80 % na Índia em três meses
    • Fosfatados: +40 % no Brasil e na Índia no curto prazo

Embora conservadoras, as projeções repetem o padrão visto após a invasão russa na Ucrânia, quando os índices de fertilizantes quase dobraram.

Reações de mercado e governo

Um “prêmio de guerra” inevitavelmente encareceria fretes e seguros. Para evitar desabastecimento, países deficitários podem buscar acordos bilaterais com fornecedores — caso de Índia–Marrocos ou Brasil com nações do Norte da África e ex‑repúblicas soviéticas. A União Europeia, já onerada por tarifas sobre fertilizantes russos e bielorrussos, enfrentaria custos extras de energia caso precisasse reativar fábricas locais.

Impacto nos custos agrícolas

Com margens apertadas desde 2022, produtores de grãos veriam nova escalada de custos justamente quando a recuperação da demanda por fertilizantes ainda é frágil. Se os preços se mantiverem elevados, a adoção de pacotes nutricionais completos pode cair, com reflexos na produtividade global.

Fonte: Portal do Agronegócio

Fonte: Portal do Agronegócio