O ministro do Trabalho e Emprego em exercício, Chico Macena, defendeu nesta terça-feira (29), em Brasília (DF), uma abordagem inclusiva e ética para enfrentar os impactos da inteligência artificial (IA) sobre o mundo do trabalho durante sua participação no Painel 3 – Desafios do Mundo do Trabalho no Contexto da Transformação Digital, na abertura da 9ª Mesa Redonda da Sociedade Civil União Europeia–Brasil, promovida pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS) em parceria com o Comitê Econômico e Social Europeu.
Diante de um cenário global marcado por inovações tecnológicas aceleradas, Macena alertou para os efeitos desiguais da IA no mercado de trabalho brasileiro. “Segundo o FMI, cerca de 45% da força de trabalho brasileira está exposta à inteligência artificial. Desses, apenas 15% apresentam alta complementaridade com a tecnologia, os demais correm o risco de substituição”, afirmou. “Os ganhos de produtividade não podem ser conquistados à custa do aprofundamento da desigualdade e da precarização”, alertou o ministro em exercício.
Macena frisou que a IA já está modificando profissões, reorganizando tarefas e exigindo novas competências. “A inteligência artificial é uma ferramenta. Cabe a nós decidirmos se ela será instrumento de emancipação ou de exclusão”, avaliou.
Ele apresentou aos participantes as quatro frentes prioritárias da atuação do Ministério do Trabalho e Emprego no tema: regulamentação do trabalho em plataformas digitais; qualificação profissional; modernização da inspeção do trabalho; e atuação internacional. Macena citou o projeto de lei em tramitação no Congresso para proteger trabalhadores de aplicativos, a ampliação de parcerias para formação técnica e o fortalecimento da proteção social para informais e autônomos.
Ao mencionar a expansão de data centers e a atuação dos chamados ghost workers – trabalhadores invisíveis que alimentam algoritmos –, Macena defendeu o reconhecimento desses profissionais. “Precisamos reconhecer o valor desses profissionais e garantir-lhes dignidade e direitos. São trabalhadores reais em condições muitas vezes precárias e sem proteção.”
Na avaliação de Macena, o Brasil tem potencial estratégico no cenário da IA, com milhares de unidades de pesquisa, centros de dados baseados em energia renovável e a criação do Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (Pbia). Para ele, o avanço tecnológico só será positivo se vier acompanhado de governança democrática. “O Brasil não deve apenas consumir tecnologia – mas produzir conhecimento, formar cidadãos críticos e construir soberania digital”, ressaltou.
Macena fez um apelo pela construção coletiva de soluções. “Que esta Mesa Redonda seja um marco na construção de soluções comuns que coloquem as pessoas no centro da transformação digital, fortalecendo nossos valores democráticos e promovendo um futuro mais justo, solidário e sustentável”, finalizou.