Municípios mais ricos do agro em MS têm baixa qualidade de vida, aponta estudo

Reprodução/Arquivo

O estudo deixa claro que nem o tamanho da economia agropecuária nem a população explicam de forma robusta o desempenho nos indicadores.

Apesar de Mato Grosso do Sul ser uma das potências agrícolas do Brasil, com municípios que figuram entre os maiores produtores de grãos, carne e celulose do País, a riqueza gerada pelo campo não chega de forma proporcional à população rural.

Levantamento inédito da Agenda Pública, divulgado pelo jornal Valor Econômico, revela que 8 municípios sul-mato-grossenses estão na lista dos 50 com maior Produto Interno Bruto (PIB) agropecuário do Brasil, e todos registram índices de qualidade de vida no campo abaixo de 0,6, numa escala de 0 a 1, limite que marca o patamar de alto desenvolvimento.

O estudo deixa claro que nem o tamanho da economia agropecuária nem a população explicam de forma robusta o desempenho nos indicadores. Ou seja, a riqueza gerada no campo não tem se traduzido em desenvolvimento social na mesma intensidade.

Entre os municípios de MS, a classificação é a seguinte: Ribas do Rio Pardo (0,54) e Rio Brilhante (0,53) aparecem com os melhores resultados do Estado, seguidos por Três Lagoas (0,50) e Costa Rica (0,50). Logo depois vem Ponta Porã (0,49) e Sidrolândia (0,49). Maracaju (0,48), polo consolidado de grãos, fica aquém do patamar intermediário, e Dourados (0,43) desponta tem um dos piores índices do País. 

A média simples dos oito municípios de MS é de 0,49, um desempenho que reforça a distância entre o que o agronegócio arrecada e a vida real de quem mora e trabalha no meio rural. 

Conforme a publicação, o Índice de Condições de Vida (ICV) considera variáveis como saúde, educação, infraestrutura, proteção social e gestão pública. A conclusão central do estudo é de que o tamanho da economia agropecuária não garante, por si só, bem-estar para a população.

Das 50 cidades com maior PIB agropecuário no Brasil, 31 estão no Centro-Oeste, região onde o cultivo de soja e milho domina as receitas e as exportações. Mato Grosso lidera o ranking, mas Mato Grosso do Sul também ocupa posição relevante.

Ainda assim, os indicadores sociais revelam que, mesmo em polos exportadores consolidados, as comunidades rurais seguem com deficit histórico em serviços básicos.

Segundo o estudo, municípios com maior organização administrativa e melhor gestão conseguem transformar mais a riqueza do agro em melhorias para a população.

Cerca de 25% da variação do ICV está ligada à qualidade da gestão pública, medida por critérios como endividamento, poupança corrente, liquidez, transformação digital e transparência.

“O Brasil é uma potência mundial na produção de alimentos. É fundamental que a riqueza gerada nos municípios do agro se converta em bem-estar concreto para as populações locais. Avaliar a qualidade do desenvolvimento é essencial para direcionar os esforços das prefeituras e os investimentos das empresas rumo a um modelo sustentável”, afirmou à reportagem Sérgio Andrade, diretor-executivo da Agenda Pública.

Municípios mais ricos do agro em MS têm baixa qualidade de vida, aponta estudo

NACIONAL
No recorte nacional, a educação rural aparece como a maior fragilidade. Nenhum dos 50 municípios atingiu índice alto nesse quesito e a média geral é considerada baixa.

“O baixo desempenho em educação reflete deficit histórico na oferta de ensino de qualidade em áreas rurais. Superar essa lacuna é essencial para estimular inovação, adotar tecnologias sustentáveis e garantir a sucessão geracional na agricultura”, apontou o relatório.

O levantamento também calculou o Índice de Desenvolvimento Rural (IDR), que mede agricultura familiar, produtividade, uso de tecnologia, assistência técnica e presença de jovens no campo.

O resultado repete a tendência do ICV: municípios de grande porte econômico no agro, como Maracaju e Dourados, registraram baixo desenvolvimento rural. “Quanto mais desconectada dos centros urbanos, mais a população rural é marginalizada”, disse Andrade.

No Brasil, mais da metade dos municípios pesquisados não alcançou 0,3 no IDR, sinal de que a inclusão produtiva avança lentamente. Apenas seis cidades superaram 0,40 e nenhuma chegou a 0,60.

Andrade ainda afirma que os trabalhadores rurais também são marginalizados em bem-estar e desenvolvimento humano, apesar de contribuírem fortemente para a balança comercial dos estados.

Como próximo passo, o diretor da Agenda Pública pretende apresentar os resultados da pesquisa com recomendações de governança pública e desenvolvimento sustentável para as prefeituras dos municípios avaliados, além de autoridades federais, para que políticas públicas possam ser repensadas.

Para obter os resultados, os pesquisadores cruzaram dados de 10 fontes públicas, como o Censo Agro 2017 e o FNDE, e calcularam o IDR, que considera número de estabelecimentos de agricultores familiares, produtividade das lavouras, uso de tecnologia, assistência técnica e presença de jovens no campo.

Fonte: Correiodoestado