O inverno de 2023 foi um dos mais quentes desde 1961, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). As cidades de Cuiabá (MT) e São Paulo (SP) tiveram o inverno mais quente dos últimos 63 anos. O excesso de calor traz junto com ele a baixa umidade relativa do ar, e essa condição climática acarreta malefícios às mucosas que fazem parte do sistema respiratório (envolvendo o nariz, a faringe, os brônquios e as traqueias), por ficarem ressecadas e precisarem trabalhar mais para evitar essa situação.
As ondas de calor sentidas pelos brasileiros no final do inverno, e que devem continuar durante toda a primavera, causam uma diminuição da imunidade no organismo prejudicando os atletas. Profissionais da saúde aconselham treinar no início da manhã ou no final da tarde, o que ajuda a melhorar de forma considerável o grau de desconforto causado pela falta de umidade das mucosas. O ressecamento força as mucosas a secretarem mais líquidos para compensar o resfriamento do organismo.
Para o nosso corpo ter um bom funcionamento, ele precisa estar dentro de uma faixa de temperatura que deve variar entre 36,5ºC e 37ºC, ocasião em que as proteínas que fazem o papel de controle e funcionamento do metabolismo não sofram. Quando as temperaturas externas aumentam demais, o nosso corpo precisa buscar um ajuste no nosso “termostato natural”. Este sistema fica dentro do nosso cérebro, mais precisamente no hipotálamo que rege o nosso sistema nervoso autônomo e controla diversas funções metabólicas, hormonais e fatores físico-químicos, como pressão e temperatura, efetivando nossas funções e garantindo a homeostase.
Muitos neurônios do sistema nervoso central são sensíveis à temperatura, mas os neurônios no hipotálamo traduzem e trabalham para dissipar o calor quando sentido em excesso. Essas ações são vasodilatação periférica, aumento de sudorese e diminuição geral da atividade somática.
Os vasos sanguíneos das extremidades dilatam e ajudam na dissipação do calor através do suor e da respiração que faz com que a pressão arterial caia, pois ocorre mais distribuição do fluxo sanguíneo para todo o corpo. Isso também diminui o fluxo sanguíneo no cérebro.
O excesso de suor – como uma tentativa do corpo dissipar o calor – aumenta a perda de sais minerais, incluindo o cloreto de sódio, o que aumenta a probabilidade de câimbras ou espasmos musculares e contrações aumentando, também, a suscetibilidade a lesões.
Os malefícios trazidos pelas ondas de calor são, principalmente, as dores de cabeça. O calor excessivo faz com que os atletas desidratem mais rápido. O sangue fica mais concentrado em outras regiões do corpo e isso pode alterar de alguma forma o fluxo de sangue para dentro da caixa craniana. Este fator muda as percepções das membranas que envolvem o cérebro, gerando uma sensação desagradável de desconforto, pois o cérebro precisa de excelente perfusão sanguínea para um bom funcionamento.
É importante ter uma atenção especial com as crianças e os jovens atletas que, por gastarem mais energia nos treinos do que os adultos, produzem mais calor metabólico e por isso com maior tendência a aumentar ainda mais a temperatura interna.
Os sintomas de fraqueza e falta de energia também podem ser ocasionados pelo fluxo sanguíneo desordenado, o que reflete na baixa de pressão. O recomendado é que os atletas tomem alguns cuidados, como deixar o ambiente onde fazem os treinos e os descansos mais úmidos, beber muita água e lavar o nariz com soro fisiológico. À medida que o corpo fica mais quente, os vasos sanguíneos se dilatam, o que abaixa a pressão sanguínea e, assim, o coração precisa trabalhar mais para conseguir empurrar o sangue através dos vasos sanguíneos. Por essa razão os atletas podem se sentir também mais cansados do que o normal e sem fôlego. É imprescindível que eles aumentem a ingestão de água (além do normal) para que o corpo mantenha o bom funcionamento.
Infelizmente, as recentes ondas de calor são resultado das alterações climáticas nos últimos anos e existe a real possibilidade de aumento na frequência, intensidade e duração desses eventos extremos não apenas no Brasil, mas no mundo inteiro. Travamos agora uma disputa que deverá – não apenas no âmbito esportivo, mas também no humanitário – deixar o campo da individualidade e ir para o coletivo, para que possamos trazer grandes conquistas no esporte e também na manutenção da vida como a conhecemos.
Amanda Ciaramicoli, psicanalista esportiva