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Ponta Porã na linha do tempo: A guerra da tríplice aliança

Retirada da Laguna, exército brasileiro chega a Nioaque

05/06/2018 15h10

A chamada Retirada da Laguna foi um episódio da Guerra do Paraguai (1864 – 1870) imortalizado na literatura pela pena de um de seus protagonistas, o futuro visconde de Taunay, e na música – mais de cem anos depois – pelo compositor brasileiro César Guerra-Peixe.

Após a apreensão da Canhoneira Anhambaí da Marinha do Brasil, no rio Paraguai, e da invasão da então Província do Mato Grosso pelas forças do Exército Paraguaio em dezembro de 1864, declarada a guerra, uma das primeiras reações brasileiras foi a de enviar um contingente militar terrestre para combater os invasores em Mato Grosso.

Desse modo, em abril de 1865, uma coluna partiu do Rio de Janeiro, sob o comando do coronel Manuel Pedro Drago, recebendo reforços em Uberaba, na então Província de Minas Gerais, percorrendo mais de dois mil quilômetros por terra até alcançar Coxim, na Província do Mato Grosso, em dezembro desse mesmo ano, que encontrou abandonada.

O mesmo se repetiu ao alcançarem Miranda, em setembro de 1866. Em janeiro de 1867, o coronel Carlos de Morais Camisão assumiu o comando da coluna, então reduzida a 1.680 homens, e decidiu invadir o território paraguaio, onde penetrou até Laguna, em abril. Por distante das linhas brasileiras, e sem víveres para o sustento da tropa, afetada pela cólera, o tifo, e pelo beribéri, a coluna do Exército Brasileiro foi forçada a retirar sob os constantes ataques da cavalaria paraguaia, retratado de forma fidedigna na literatura de visconde de Taunay, infligindo perdas severas aos brasileiros.

De um efetivo de cerca de 3.000 homens, apenas 1680 estavam vivos em abril de 1867 quando chegaram no território paraguaio e destes retornaram às linhas brasileiras as margens do Rio Aquidauana, hoje município de Anastácio-Mato Grosso do Sul, em 11 de junho de 1868 apenas 700 homens, alquebrados pela doença e pela fome. Neste local, que se denominou Porto do Canuto, há um marco em pedra arenito.

A força expedicionária brasileira, em retirada da fazenda Laguna, no norte do Paraguai, chega finalmente a Nioaque, em 3 de junho de 1867. O povoado havia sido abandonado dois dias antes pela defesa brasileira, receosa de um ataque inimigo e ocupada pela cavalaria paraguaia, que durante toda a marcha, vanguardeou os retirantes:

Esta bonita povoação, abandonada, ocupada e pela segunda vez, desde o início da guerra, devastada, convertera-se num montão de destroços fumegantes. O grande galpão que outrora nos servira de armazém de mantimentos e ainda achamos de pé, sobre os esteios incendiados, mostrava renques de sacos que nossa gente, sem dúvida, não tivera tempo de carregar e já serviam de pasto ao incêndio. O arroz e a farinha carbonizados, exteriormente; o sal, gênero esse tão escasso e precioso no interior do país, negrejara e fundia sob as nossas vistas.

Aqui e acolá jaziam muitos cadáveres, todos de brasileiros. Constatamos que muitos desses infelizes mortos haviam servido em nossas fileiras. Desertando por ocasião do exacerbamento de nossas misérias, e morrendo de fome pelas matas, haviam se apressado, embora correndo o perigo de serem reconhecidos, em tomar parte do saque. Fora um deles, de pés e mãos amarrados, sangrado como um porco. Jazia outro, crivado de feridas, e uma velha estirada a seu lado, de goela aberta e seios decepados, nadava no próprio sangue.

Foi quase toda a coluna acampar por esta noite atrás da igreja, sobre o grande terrapleno que descrevemos e onde, escalonados com os canhões nos ângulos, para maior segurança contra o inimigo, nos apoiávamos à mata do rio. Ali, gozamos, enfim, um pouco de verdadeiro descanso. Dupla e tripla ração se distribuiu; permitiam-no as circunstâncias; sentia-se o comandante feliz por contentar os soldados, quanto possível. Pela primeira vez e desde muito, podíamos contar com o dia de amanhã. Restavam-nos, apenas, para-nos por fora de qualquer perigo eventual, fazer quinze léguas, a caminhar por excelente estrada, de Nioaque ao Aquidauana, onde éramos esperados. E para tal marcha tínhamos víveres sobejos.

FONTES:

Publicado por Sergio Cruz. datasefatos.blogspot.com. Livro Taunay, A retirada da Laguna, 14a. edição,

Edições Melhoramentos, S. Paulo, 1942, página 134.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Retirada_da_Laguna

Foto web divulgação. Obelisco em homenagem a Taunay localizado em Nioaque.

Pesquisador professor Yhulds Bueno.