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Revitalização da Linha Internacional: um projeto de grande alcance social

09/01/2014 10h20

Revitalização da Linha Internacional:

um projeto de grande alcance social

Nesta entrevista, Roberto lamenta que algumas pessoas ainda vislumbram no projeto de revitalização apenas o aspecto da construção física.

Jornal Regional

Para muitos, infelizmente, o Projeto União de Dois Povos – Revitalização da Linha Internacional, se resume à construção de boxes para ocupação por parte dos comerciantes e prestadores de serviço informais que atuavam irregular e precariamente num espaço que divide _ e une _ Ponta Porã e Pedro Juan Caballero. Tal fenômeno recebe a denominação de “conurbação”, ou seja, duas cidades, dois países diferentes, porém, com muitas semelhanças detectadas diariamente no convívio de suas populações.

O projeto, empreendido pelas prefeituras de Ponta Porã e Pedro Juan Caballero, com total apoio da ONG Paz y Desarrollo, como o co-financiamento da União Européia pode ser considerado o início de uma mudança radical na forma de empreender ações para resolver problemas complexos que atingem os dois lados da fronteira.

A conquista de recursos internacionais, a fundo perdido, tornou-se um fato inédito na história político-administrativa das duas cidades. E abriu caminho para novos projetos com financiamento europeu _ como o GIAPA voltado para a recuperação e preservação dos recursos ambientais envolvendo mais municípios na fronteira entre os dois países e também o da melhor destinação dos resíduos sólidos (lixo) também em parceria entre as duas administrações.

Tais exemplos servem de modelo para novos projetos em parceria. Também estímulo para aqueles que acreditam que somente com a união das autoridades brasileiras e paraguaias será possível enfrentar e resolver problemas que afligem diariamente pedrojuaninos e pontaporanenses. Autoridades que, durante muitos anos, viravam-se de costas umas para as outras.

“O Projeto União de Dois Povos – Revitalização da Linha Internacional é um marco para nossa região. Uma quebra de paradigma”, afirma o Professor Roberto Winters Steil, profundo conhecedor da essência do projeto e um dos responsáveis pela coordenação da maioria das ações desenvolvidas durante a execução do referido projeto.

Nesta entrevista exclusiva ao Jornal Regional, Roberto, que está deixando a fronteira onde viveu durante décadas conquistando respeito e admiração por conta de sua competência profissional e conduta pessoa, lamenta que algumas pessoas ainda vislumbram no projeto de revitalização da Linha Internacional apenas o aspecto da construção física.

“O Projeto União de Dois Povos – Revitalização da Linha Internacional, é um marco para nossa região, não apenas pelo que traz no seu bojo, a recuperação de uma área degradada dos pontos de vista humano, social, ambiental e urbanístico, mas também como o resgate de uma cidadania tão maculada pela ideia que muitos têm das fronteiras”, afirma.

Segundo ele, “muita gente tem prestado atenção apenas aos aspectos construtivos do projeto. Muito mais que isso, a obra deve apenas servir para um avanço significativo nos aspectos da coesão social. A melhoria das condições de trabalho e de vida para aqueles que subsistem do comércio na Linha Internacional é um ganho importante, mas também a cooperação intermunicipal/internacional após tantos anos de convivência separada, a criação de um novo espaço para que cidadãos fronteiriços e turistas possam circular, se entreter, experimentar nossa rica gastronomia, realizar compras, enfim, experimentar a fronteira”.

Roberto segue sua explanação, argumentando que “o caso das cidades gêmeas de Ponta Porã (Brasil) e Pedro Juan Caballero (Paraguai), uma das poucas conurbações internacionais no mundo, é a mostra clara da mudança dos paradigmas sobre fronteira: em vez de divisor de países, fonte de todos os ilícitos e descaminhos e local para ser fechado e ter trânsito e fluxos dificultados, as administrações locais, nos últimos dez anos, souberam iniciar um processo de trabalho conjunto, na busca de superação das suas dificuldades. A cooperação vem ganhando espaço e passamos a exercitar, na prática, o sonho da tão desejada integração latino-americana”.

O professor está convencido de o projeto criou uma nova perspectiva na fronteira: “uma agenda positiva começa a ser desenvolvida, acompanhada por novos olhares dos Governos Nacionais, em particular no caso brasileiro, a criação dos Núcleos Estaduais de Fronteira; já somos referência como convivência fronteiriça tanto para Ministérios e Secretarias, como para Universidades e outras Instituições de Ensino e Pesquisa; prêmios nos foram concedidos e convites para apresentar nossas boas práticas, localmente e em outros países tem sido recebidos, a mídia internacional tem lançado seu olhar sobre essa região, mas acima de tudo, estamos plenamente cientes de que muito ainda temos a fazer. Estamos apenas engatinhando nesse processo de reescrever nossa história, agora conjunta”, assegura.

No final da entrevista, ele faz um pedido a todos os fronteiriços: “que cada um de nós pense, de que forma possa contribuir, para o fortalecimento dessas relações, humanas e institucionais, para que não se permita um passo atrás, para que as pequenas conquistas sejam as sementes de uma fronteira fraterna e pacífica”.

Revitalização da Linha Internacional: um projeto de grande alcance social