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quinta-feira, 25 de abril, 2024
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Tião Prado: Lanchão fechou as portas, mas ficam as lembranças

Claro que contar histórias é muito legal e melhor ainda é você ter vivido essa história e poder falar dela.

É por isso que estou aqui pedindo licença a todos os amigos leitores do Pontaporainforma, para contar a minha história com o Lanchão. No final da década de 70 fui apresentado a essa lanchonete na cidade de Nova Andradina-MS, uma belíssima cidade que chegamos em 1973 e vivíamos divididos entre Batayporã, onde chegamos em novembro de 1969 e a própria Nova Andradina. Assim, mudamos de Batayporã para Nova andradina para que o Orlando Canto (meu irmão) pudesse cursar o ‘ginásio’, que acho que ele não terminou até hoje, apesar dele falar que cursou contabilidade até o final no Centro Educacional.

Voltando a minha história, já estava na Rádio Cacique há alguns meses onde comecei como  cobrador e, em seguida, passei para a parte técnica, isso aos 14 anos de idade. Fui trabalhar das 17h30 as 23 horas, soltava a Voz do Brasil, que pegava o sinal da rádio Globo ou a que tivesse melhor e era uma chiadeira danada e, sem seguida, o projeto Minerva e tinha que ficar escutando, porque sempre as 19h30min o presidente da Republica falava em cadeia nacional de rádio e Televisão. Era o período militar.

As 19h30, entrava no ar com o programa Noite  Sertaneja com a apresentação Pedro Rodriguês, que tinha uma voz maravilhosa, alias, naquela época o locutor tinha que ter ótima voz, por isso eu era sonoplasta. Com o prefixo musical de Luar no Sertão com Tonico e Tinoco, o fundo musical era Mario Zan, Dino Rocha e Maciel Correa, e muita música sertaneja raiz com Tião Carreiro e Pardinho, Milionário e José Rico e outros mais até as 21 horas.

Neste horário entrava no ar o Programa Fim de Noite, na Rádio Cacique, com o melhor da música Popular brasileira e muita música orquestrada da melhor qualidade. Era uma ótima seleção musical, mas eu odiava, claro, eu um garoto!

Pontualmente as 23 horas, o locutor entrava no ar, agradecia a audiência, falava o nome da galera que trabalhou, locução, sonoplastia, discotecário, direção de programação e direção geral, falava boa noite e entrava um encerramento de programação.

Desligamos os equipamentos, apagamos as luzes, fechei o portão, peguei a minha magrela, uma monareta 79 sem paralamas e ia partindo para casa quando o Pedrão me chamou: “Tiãozinho, vamos comemorar a sua estréia, vamos lá no Lanchão, vou te pagar um Bauru e uma tubaína, porque ainda é muito jovem pra tomar cerveja”.

Todos os dias eu passava na frente do Lanchão, sempre cheia de gente, era aquela loucura e eu não tinha grana para ir lá. Assim, aquele convite foi um momento mágico. Partimos em minha magrela, pulando meio feio, fazendo manobras radicais e o Pedrão a pé, dando risada daquelas bobeiras que eu fazia.

Chegando lá, Pedrão pediu um café com leite e apresentou  a turma o seu novo sonoplasta: EU. Pedrão disse para o atendente: “Faz um Bauru pra ele e trás uma tubaína, que hoje ele merece comemorar, foi seu primeiro dia de sonoplasta e tem futuro, é muito bom”,  dando uma risada animada.

Pedrão era escrivão da Policia Civil, um cara muito gente boa e trabalhamos juntos mais de um ano e toda noite, saímos da rádio e íamos ao Lanchão. Chegando lá ganhava de presente um pastel quentinho, tomava um café ou um copo de água  porque nem sempre tinha grana, vez ou outra comia um enroladinho de presunto e queijo, que era uma gentileza da tia que fazia os lanches e partia pra casa na rua 7 de Setembro, ali ao lado da casa da Dona Margarida, mãe do amigo Gerson Lopes, Caçapa,Nego Delson,  Bugrão, Marilza, Sonia e sogra do Alemão um ótimo Sãopaulino,  onde a gente ouvia os jogos do São Paulo, em um rádio que tenho até hoje em meu estúdio.

Lá do céu espero que a Dona Margarida me perdoe, porque quando as pessoas chegavam lá e perguntava: “ A senhora que a mãe do Caçapa, do Brugão”,  ela virava e dava uma xingada na pessoa, dizendo que não moravam ali. Dona Margarida odiava apelidos.

Toda vez que chego em Nova Andradina, abro o vidro do carro para ver quem está lá no Lanchão e a Dora sempre pergunta: “Será que seus amigos estão aí? “,  e sempre estão.

É o Orlando Canto, o Gerson, o Edson José, – o melhor repórter esportivo do estado, o Nenão  e vários outros amigos que marcam ponto por lá todo santo dia. Sempre paramos lá, tomamos um delicioso café e, é claro, sempre comemos aquele delicioso pastel que é servido desde o final da década de 70.

Você pode até estar se perguntando se foi boa essa época e eu te repondo: ‘foi uma época muito boa, eu só me preocupava em trabalhar na rádio, visitar o Lanchão, jogar no juvenil do Zé Maria, que de tabela era o juvenil do Sena e aos domingos, pegar o ônibus da Motta e ir almoçar em Batayporã na casa do seu Manoel Prado e a dona Elisa Farias, meus pais, que eu sempre amei muito’.

Contei essa história para informar a você que o Lanchão fechou as suas portas na sexta-feira, dia 21.

Com certeza, ao visitar Nova Andradina, será muito triste passar por lá e não ver a lanchonete aberta. Não teremos mais o nosso ponto de encontro e nem a referência, pois quando se pergunta de algum amigo, logo  se fala para ir lá no Lanchão que deve estar por lá. Assim foi por 40 anos, e agora chega ao fim.

A roda da vida rodou em hoje estou de volta a Ponta Porã, fazendo o que gosto e dividindo experiência.

Espero que tenha gostado, eu adoro contar historias….já te falei daquela do……