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sexta-feira, 19 de abril, 2024
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Artigo: Meu (a) filho (a) é gay e agora?

Por Juliana Rauzer

No atendimento psicopedagógico estamos focados no desenvolvimento da aprendizagem dos nossos aprendentes, porém com a criação de vínculo que se estabelece entre o educando e ensinante também vem junto à confiança e quando eles se sentem seguros acabam nos procurando para desabafar, conversar, pedir conselhos…

Comigo ocorreram casos em que jovens me informaram não se identificar com o seu gênero, outros que se sentiam em dúvida em relação a sua sexualidade e também pais que informaram não saberem lidar com essa situação. Eu deixo claro que não sou psicóloga e que o ideal é procurar esse profissional, mas acabo sendo boa ouvinte. É extremamente delicado quando um jovem está em conflito seja pela sexualidade ou não, isso porque para eles aquela situação parece não ter fim e muitos acabam depressivos e alguns cometem suicídio.

A universidade de Columbia nos Estados Unidos realizou uma pesquisa e descobriu que o suicídio entre jovens é o maior quando não sabem lidar com sua opção sexual. E infelizmente o suicídio é a terceira principal causa de morte entre jovens de 15 a 24 anos.  Para que possamos evitar esse ato desesperado creio que o diálogo é a melhor solução. Sabemos que tem famílias que não aceitam, não compreendem e outras que apoiam. Mas sem fazer julgamentos quero aqui trazer auxílio para quem passa por essa situação, pois acredito que quando temos conhecimento sobre algo conseguimos tomar uma atitude mais assertiva, com mais sabedoria e menos ignorância.

Os pais criam uma expectativa com os seus filhos, alguns querem que sua prole seja o que eles não puderam ser ou que sejam melhores do que eles foram e por consequência que sigam a lei natural da vida: nascer, crescer, reproduzir, envelhecer, morrer… E a questão da reprodução é o que acaba gerando conflito, pois muitos dizem que os homossexuais não podem procriar e por tanto estão indo contra a natureza sendo uma conduta inaceitável para muitos.

Mas quando a homossexualidade acaba acontecendo dentro da sua própria família, qual é a sua reação? Já ouvi pais dizendo que tem amigos gays, que não tem preconceito, mas quando se depararam com o (a) filho (a) comunicando que é gay acabaram tendo uma reação adversa, de negação, sentimento de culpa e se perguntando aonde errou.

Primeiro é importante saber que ser LGBT não define caráter, profissão, gostos, índole. Tem muitos heterossexuais que outorgam tantos desgostos e infelicidade na família que nada tem haver com opção sexual. O importante é alertar que o mundo pode ser perigoso, mas dentro do seu lar ele estará protegido e seguro. Tendo esse apoio ficará menos difícil para ele (a) lidar com essa situação. Mesmo que para você ainda seja difícil de compreender ou aceitar.

Existem adolescentes que não aceitam ser gays, lutam contra os seus sentimentos e pensamentos. Se para eles é difícil para muitas famílias é chocante. Mesmo com tanta informação muitos pais sofrem quando descobrem, uma porque tem receio do que a sociedade vai dizer e o quanto o (a) jovem vai sofrer e outra que pertencendo ao grupo LGBT pensam que estarão entrando no mundo da perdição.

Uma coisa é certa, famílias que fazem discursos religiosos, chantagens emocionais, ameaças, não conseguirão fazer com que a pessoa deixe de ser homossexual, o máximo que vão conseguir é que eles acabem mentindo e isso não é saudável em nenhuma relação.

Não existe opção sexual, não é tipo: “ah hoje eu vou ser isso ou aquilo”, simplesmente tem atração pelo mesmo sexo e pronto! Na verdade não existe estudos que comprovem cientificamente que a homossexualidade é uma causa psicológica, genética ou espiritual. Mas sabemos que a atração existe e a pessoa não escolheu aquilo, apenas sente. Quem ia gostar de escolher ser o que uma sociedade menospreza? Quem ia gostar de ser hostilizado? Ameaçado? Ignorado? Reprimido? Acredito que ninguém. Agora eu lhe pergunto: você optou por gostar do sexo oposto? Não né, simplesmente é algo natural. Para o gay também!

Não foi na criação, não foi porque você não colocou no futebol ou deixou brincar de bonecas, nem tão pouco porque brincou muito com o sexo oposto. Compreenda que não existem culpados ou errados. Aceitando isso você já estará compreendendo melhor o (a) seu jovem.

Segundo o Doutor em Filosofia Alexey Dodsworth: “Se você realmente se preocupa com a possibilidade de seu filho “sofrer mais” por ser homossexual, esforce-se para não ser você mais uma razão para sofrimento na vida dele. Em geral, pessoas homossexuais aprendem a não ligar para eventuais manifestações de preconceito. Alguns até reagem e ensinam grandes lições aos preconceituosos. Mas quando o preconceito vem da própria família, principalmente dos pais, este tipo de sofrimento é quase irrecuperável. Gera mágoas profundas e feridas difíceis de cicatrizar. Não é à toa que a incidência de tentativas de suicídio é maior entre gays – não é porque eles são gays que tentam se matar, é por causa dos pais que não os aceitam como são! Você, que deu a vida a seu filho, pense no horror que seria tornar-se provável colaborador da causa de sua morte. Você, que deu a vida a seu filho, pense em como será maravilhoso colaborar para sua felicidade. E não há maior felicidade do que poder ser aquilo que se é, com o apoio daqueles que dizem nos amar.”

Portanto caros leitores o diálogo, o apoio, a informação, a busca de ajuda e compreensão irão auxiliar para que o vínculo entre vocês jamais se quebre e por mais desafios que possam surgir à união fará com que vocês fiquem ainda mais fortes e superarão qualquer desafio, porque independente de ser gay ou hetero as dificuldades, problemas, medos, angustias irão surgir, mas se a base que construíram for sólida nada e nem ninguém irá destruir.

Finalizo com um poema de Kahlil Gibran:

Nossos filhos não são nossos filhos…

São os filhos e filhas da vida desejando a si mesma.

Eles vêm através de nós, mas não de nós,

E embora estejam conosco, não nos pertencem.

Nós podemos lhes dar nosso amor, mas não seus pensamentos,

Pois eles têm seus próprios pensamentos,

Nós podemos abrigar seus corpos, mas não suas almas,

Pois suas almas vivem na casa do amanhã,

que nós não podemos visitar, nem mesmo em seus sonhos.

Nós podemos lutar para ser como eles,

mas não perduraremos- nos torná-los iguais a nós.

Pois a vida não volta para trás, nem espera pelo passado.

Nós somos o arco de onde nossos

filhos são lançados como flechas vivas.

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Facebook: Psicopedagoga Juliana Rauzer.

Juliana Rauzer da S. Sousa

Pedagoga, Psicopedagoga, Neuropsicopedagoga Especialista em Educação Especial e Psicologia Educacional.