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quinta-feira, 28 de março, 2024
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Artigo: A dificuldade comunicativa dos Autistas

Por Juliana Rauzer

Antes de falarmos em comunicação é importante lembrar que o Autismo é conhecido como Transtorno do Espectro Autista (TEA), que é um transtorno neurológico intensamente oscilante. Ele afeta as interações sociais e costuma manifestar-se nos primeiros cinco anos de vida. Para critérios diagnósticos é necessário que os sintomas se tornem aparente antes dos três anos de idade. Mas os indícios começam gradativamente após os seis meses de vida. E tende a continuar até a vida adulta.

Por Juliana Rauzer

Cada pessoa é diferente da outra, com os autistas não é diferente. Mas podemos observar características que auxiliam na sua identificação. Segue algumas delas:

– Padrões de comunicação estereotipados e repetitivos, que é quando se repete movimentos em seu próprio corpo, objetos ou fala. Seguem comportamentos rotineiramente tendo um número reduzido de interesses;

– Dificuldade de realizar contato visual, alguns não conseguem olhar nos olhos;

– Relacionamento interpessoal afetado, com dificuldade para fazer amigos e socializar com outras pessoas, preferindo ficar só;

– Riso inapropriado;

– Pouca demonstração de dor e medo com situações, objetos e animais perigosos;

– Gosta de brincar sempre com o mesmo objeto ou brinquedo;

– Resistência a mudanças;

– Autoagressão, movimentos que ferem ou pode ferir pessoas, como morder, bater a cabeça, arranhar;

– Intolerância a ruídos altos;

– Andar nas pontas dos pés;

– Restrição alimentar. Hipersensibilidade às texturas ou temperatura dos alimentos;

– Não responde quando é chamado pelo nome. Dificuldade de expressar seus sentimentos com gestos e fala;

Existem indivíduos com TEA que apresentam habilidades incomuns. Alguns memorizam de forma inigualável, outros são prodígios e talentosos. Temos como exemplo pessoas autistas e famosas que possuem essas características, tais como: o compositor Mozart, o cantor Robbie Willians, o astrônomo Isaac Newton, o grande compositor Beethoven, dentre outros.

Alguns estudos informam que a causa do autismo é genética e é originada por uma irregularidade no cérebro, como no cerebelo que “tem como função controlar os movimentos voluntários do corpo, a postura, a aprendizagem motora, o equilíbrio e o tônus muscular”. Explica a Doutora Helivania Sardinha dos Santos em um artigo para o site Biologia Net.

A comunicação dos autistas nem sempre é de forma verbal, isso ocorre com cerca de um terço dos diagnosticados. Algumas crianças apresentam balbucios e não evoluem sendo uma característica importante de ser observada.

A linguagem verbal passa por etapas. É importante saber o que a criança deve falar em cada fase do desenvolvimento infantil. Por isso, segue uma tabela informativa de acordo com informações do Conselho Federal de Fonoaudiologia:

1 A 3 MESESO Bebê comunica-se através de entonações do choro.
4 A 6 MESESO neném emite sons guturais. Exemplo: “Grrr” ou “Errr”. Ele mexe a boca e varia a voz.
6 A 8 MESESEles emitem alguns balbucios como: “baba”, “angu”, “dada”, “gugu” “mamama”. Produz consoantes como M, B, P em sílabas e junções sem significado. Já olha quando é chamada pelo nome.
1 ANOFala palavras simples: mamãe, papai, papa, água. Emite onomatopéias como (au-au, miau, bibi). Com um ano e meio ela combina duas palavras como “da papa”.
1 ANO E 8 MESESA criança tem a capacidade de falar mais de 50 palavras. Sua compreensão evolui tanto quanto a fala e ela já consegue manter pequenos diálogos.
2 A 3 ANOSConsegue formar frases completas. Seu vocabulário varia de 200 a 400 palavras. Elabora frases com 3 a 4 palavras e conta pequenas histórias com auxílio do adulto.
3 A 4 ANOSMantém diálogo sem dificuldade. Seu vocabulário está ainda maior com aproximadamente 600 palavras. Sua fala é facilmente compreendida mesmo que ainda possa ocorrer troca de letras. Suas frases são longas podendo ter seis palavras. Informa no passado, presente e futuro e ainda com capacidade de usar plural, preposições. Até os três anos espera-se que fale os sons das letras: p, t, k, b, d, g, f, s, x, v, z, j, m, n, nh.
4 a 5 ANOSFala praticamente todos os sons das letras. Já conta história sem auxílio do adulto. Usa com facilidade frases maiores. Pode apresentar dificuldade na flexão verbal. Aos quatros anos já é esperado que fale os sons do LH e R. Exemplo: Ilha. Amora.
5 ANOSA criança deve ser capaz de pronunciar todos os fonemas adequadamente. As histórias e diálogos são contadas com detalhes. Possuem noção de espaço e tempo. Lembrando que cada criança possui um ritmo de aprendizado. Pequenos ajustes na rotina e no brincar contribuem significativamente no desenvolvimento da linguagem. Caso a criança se distancie das idades apresentadas uma avaliação com fonoaudiólogo é indicada.  

 No E-book     que escrevi com meu marido e Pedagogo Maximiliano Sousa (Reflexões sobre Atividades Lúdicas em Tempos de Pandemia) citamos: Reserve ao menos 10 minutos para a hora do livro, onde juntos descobrirão lindas histórias.  Lembre-se que proporcionar este estímulo beneficia o vocabulário, o cognitivo auxiliando também o desenvolvimento psicomotor (que é a evolução da inteligência, afetividade, sociabilidade, da comunicação e da aprendizagem de forma simultânea e global aumentando a capacidade da criança em realizar progressivamente funções motoras e cognitivas), assim como incentiva a imaginação, estimula a criatividade, favorece a aquisição de cultura e também estimula a ter atitudes éticas. Sem falar que existem também livros que estimulam os sentidos, alguns com texturas diferentes, formas, aromas, cores… Sendo imprescindível a família realizar esse contato desde os primeiros meses de vida. (RAUZER E SOUSA, 2020, p. 19).

Alguns autistas pronunciam palavras com ecolalia, que é quando repetem a palavra ou fala de outra pessoa. Você pergunta: Que cor é essa? E ela responde: Que cor é essa! É amarelo? Ela lhe diz: É amarelo!

Para transformar a ecolalia em uma comunicação significativa é importante evitar fazer perguntas que resultem em repetição. Você pode dizer uma frase incompleta e pausar para ver se ela completa. Pode dizer: Quero comer… e veja se a criança complementa. Diga as respostas corretas. Fale palavras e frases simples. Utilize cartões com imagens solicitando que ela verbalize o animal ou objeto reproduzido na imagem.

Outra estratégia que tem trazido benefícios na comunicação com autistas é a comunicação alternativa (CAA). Ela é um meio eficaz para facilitar a comunicação com recursos optativos, sendo muito utilizada para todos os indivíduos que não falam, pois permite expandir a comunicação e a interação da pessoa com déficit com os outros do seu convívio.

Segundo o Dr. Paulo Liberalesso em um artigo para o site do Instituto Priorit, nos informa: A CAA tem um papel importantíssimo na inclusão escolar. Muitos alunos atípicos enfrentam extrema dificuldade para serem socialmente incluídos no ambiente escolar. Estabelecer um canal efetivo de comunicação entre a criança e a comunidade escolar, mesmo que não-vocal, é imprescindível.

O Neuropediatra Dr. Liberalesso ainda nos explica como o CAA pode ser trabalhado:

É preciso definir se a CAA ocorrerá “com apoio” ou “sem apoio”, o que dependerá das características de cada criança. Uma comunicação “com apoio” ocorrerá por meio da utilização de instrumentos como placas com figuras, imagens, fotografias, tablets e computadores. Já na CAA “sem apoio”, o aluno utilizará recursos próprios de seu corpo como gestos, língua de sinais, piscar de olhos e outros. Na comunicação “sem apoio”, o aluno não necessita da intervenção de outra pessoa e nem de qualquer equipamento para estabelecer a comunicação.

 Para saber o tipo de recurso adequado para o autista é importante o trabalho de uma equipe multidisciplinar, pois necessita de estratégias particulares para cada pessoa. Leva-se em conta a idade, o nível de suas limitações e o contexto que ele vive. Os familiares também precisam estimular o uso do recurso no seu dia a dia, assim o autista vai absorvendo a lógica por trás das interações bem sucedidas e ganhando confiança na hora de se comunicar por conta própria.

Eu já fui professora em uma escola de Educação Especial em Porto Alegre. Nela recebíamos crianças e adolescentes deficientes moradores de abrigos. E jamais vou esquecer o quanto me comunicava com os olhos com um menino cujo nome fictício será Marco. Eu perguntava se estava com fome e se a resposta fosse sim ele piscava uma vez. Se fosse não ele piscava duas vezes. Marco era cadeirante e tinha paralisia cerebral, não falava, mal mexia as mãos, mas era esperto. Loirinho de olho verde sorria quando contava uma piada e me apontava com os olhos tudo que queria. Mesmo sem conhecer a alternativa aumentativa (na época eu era estudante de pedagogia) eu fiz um quadro com imagens e ele me mostrava corretamente o que desejava: pintar com tinta, escutar música, comer, descansar… Foi uma experiência incrível que jamais será esquecida. Não podemos pensar que não é porque não falam que eles não compreendem, principalmente com os autistas. Todo estímulo deve ser proposto, pois assim os resultados serão duradouros e com tratamento adequado a chance de qualidade de vida do autista e dos seus familiares tende a melhorar.

Para contato, participar de sugestões de temas e outros assuntos segue minha Página no Facebook: Psicopedagoga Juliana Rauzer.

Deus abençoe e até a próxima semana!

Juliana Rauzer da S. Sousa

Pedagoga/Psicopedagoga/Especialista em Educação Especial