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segunda-feira, 17 de junho, 2024
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Chuva chega tarde e não alivia estragos já causados pela seca na safra de milho

Levantamento estima queda de 19% na produção do grão para o ciclo 2023/2024

A chegada da chuva neste fim de semana não aliviou os estragos já causados pela seca nas lavouras de milho cultivadas em Mato Grosso do Sul. A safra 2023/2024 já apresenta estimativa de queda de 19,23% na produtividade. Com um prognóstico que aponta chuvas abaixo da média, especialistas do setor indicam uma segunda safra desafiadora.

Após mais de 30 dias sem precipitações, nesta sexta-feira, grande parte Estado amanheceu debaixo de chuva, mas, apesar de ela ter contribuído para o aumento da umidade relativa do ar, o volume, que chegou a 50,2 milímetros em Dourados e a 44,6 mm em Maracaju, não trouxe grandes mudanças nas lavouras de milho.

Com a chegada da chuva, o engenheiro-agrônomo, doutor em Fitotecnia e pesquisador do Centro de Pesquisa e Consultoria Agropecuária Desafio Agro Danilo Guimarães analisa o impacto na cultura do milho.

“Infelizmente essas chuvas de agora em praticamente em todas as regiões produtoras não auxiliaram. No sul do Estado como um todo e na região central é visto que as plantas já tiveram a produtividade muito afetada pela seca severa, uma vez que vinhamos de cerca de 40 dias a 45 dias sem chuvas”, explica.

O presidente do Sindicato Rural de Dourados, Ângelo Ximenes, destaca que a presença de chuva é sempre positiva, uma vez que atua na elevação da umidade relativa do ar, assim como ajuda a baixar a temperatura, contudo, para a atual situação do milho safrinha não altera em nada mais.

“Nas lavouras de milho, o que tinha de acontecer já aconteceu em termos de ciclo produtivo. Então nós acreditamos que aqui no sul de Mato Grosso do Sul nós teremos uma quebra de aproximadamente 50%”, detalha.

Na avaliação de Ximenes, o impacto irreversível causado pelas intempéries climáticas provocará prejuízos. “De um milho [projetado] de 100 sacas por hectare, com 6 mil quilos, nós vamos colher uma média de 3 mil kg, ou seja, 50 sacas por hectare”, explica.

Quanto à expectativa de queda na temperatura para os próximos dias e à projeção de inverno mais rigoroso, o presidente do Sindicato Rural de Dourados afirma que não deve haver grandes impactos. 

“A baixa temperatura, se persistir por um período muito grande, acaba interferindo no desenvolvimento do grão, mas, se for baixa temperatura só por alguns dias, não deve haver grandes problemas”, comenta Ximenes.

SECA

De acordo com agrometeorologistas do Estado, os períodos de seca ocorreram entre março e abril, sendo de 10 dias a 30 dias de estresse hídrico, e mais recentemente, entre abril e maio, de 10 dias a 20 dias sem chuva.
O pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste Danilton Flumignan reforça que no último mês a temperatura ficou muito acima do esperado para o período. 

“A gente vem de pelo menos uns 30 a 40 dias muito secos, e o milho safrinha plantado no nosso Estado em uma fase crítica de necessidade de água para uma safrinha que, mesmo assim, também não começou muito bem. Ou seja, estamos passando por uma safrinha que tem experimentado bastante calor e pouca oferta de água, pouca oferta de chuvas”, diz Flumignan e completa. 

“Algumas áreas estão boas, mas a gente consegue notar que existem muitas áreas que não estão legais. Isso como consequência desse excesso térmico, dessas temperaturas muito altas que a gente vem experimentando faz tempo”.

No segundo trimestre deste ano, espera-se que o fenômeno El Niño perca força gradualmente, dando espaço ao La Niña. Durante a transição entre eles, há uma fase de neutralidade, com 83% de probabilidade, caracterizada por temperaturas oceânicas dentro da normalidade.

Entretanto, para julho, agosto e setembro, a probabilidade de ocorrência do La Niña é superior a 49%. Isso pode impactar a cultura do milho em razão das adversidades climáticas, como chuvas abaixo da média histórica, granizo, geadas e baixas temperaturas.

Chuva chega tarde e não alivia estragos já causados pela seca na safra de milho

ESTIMATIVA

Dados da Associação de Produtores de Soja de Mato Grosso do Sul (Aprosoja-MS), com base no Sistema de Informação Geográfica do Agronegócio de MS (Siga MS), apontam que a segunda safra de milho no Estado será de 2,218 milhões de hectares, o que resultará em uma queda de 5,82%, na comparação ao ciclo anterior (2022/2023). 

A projeção para a produção é de 11,4 milhões de toneladas, 19,23% menor que no ano passado, e a produtividade prevista é de 86,3 sacas por hectare, retração de 14,25%.

“Esta safra apresenta irregularidades tanto na diferença de níveis de desenvolvimento do milho como no potencial produtivo. Quanto aos estágios de desenvolvimento, o acompanhamento da Aprosoja-MS mostra que temos aqui, em Mato Grosso do Sul, milho com emissão da segunda folha e em período de maturação dos grãos”, analisa o assistente técnico da Aprosoja-MS, Flávio Faedo Aguena.

O levantamento ainda aponta que a situação atual da safra do milho é resultado do que foi a safra da soja. No início da primeira safra, muitas áreas sofreram com a falta de chuva, o que levou muitos produtores a refazerem a semeadura de suas áreas.

“Nesta safra, teve milho que foi plantado em janeiro como também teve milho sendo plantado até o começo de maio. Durante esse tempo, também tivemos veranicos, algumas áreas ficaram 10 a 20 dias sem chuva, outras ficaram com mais de 30 dias sem chuvas. A estimativa do projeto Siga MS é de que mais de 470 mil hectares sofreram com estresse hídrico. Isso provocou esses diferentes cenários no milho segunda safra em MS”, indica a análise da Aprosoja-MS.

QUEBRA DA SOJA

Mato Grosso do Sul expandiu sua área de soja para 4,214 milhões de hectares nesta safra, um aumento de 5,2% em comparação com o ciclo anterior. No entanto, a produtividade foi de 48,84 sacas por hectare, uma redução de 21,8%. A produção resultante foi de 12,347 milhões de toneladas, uma retração de 17,7% ante os 15,007 milhões de toneladas colhidas no ciclo 2022/2023. 

A área cultivada de soja atingiu um novo recorde, continuando sua tendência de crescimento constante. No entanto, a seca prejudicou a produção, que poderia ter mantido a média de aumento dos últimos 10 anos, de 6,8%.

Os dados da quebra foram divulgados na semana passada. 

A produtividade inicialmente projetada era de 54 sacas por hectare. Contudo, após uma revisão em abril, o índice foi reajustado para 50,5 sacas por hectare. Isso representa um decréscimo de 9,6% em relação à projeção inicial. A produtividade final de 48,84 sacas por hectare é a terceira pior nos últimos 10 anos.

“Tivemos perdas na safra de soja, mas devemos lembrar que isso é uma fase, um período do agronegócio. E [cabe] ressaltar que, apesar desses números, os avanços na tecnologia de cultivares e no setor como um todo têm sido enormes. Isso evitou recuos ainda maiores na produção”, disse Jaime Verruck, titular da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc).

Fonte: Correiodoestado/Colaborou Súzan Benites