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quarta-feira, 15 de maio, 2024
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Do Japão à Angola, Nico espalhou paixão pelo judô antes de partir

Em 1978, Nicodemos Filgueiras Júnior descobriu o esporte que seria uma das maiores paixões da vida. Através do judô, o sensei rodou o mundo aprendendo, ensinando pessoas e fazendo muitos amigos. Aos 57 anos, Nicodemos se despediu da vida deixando um legado inspirador como atleta, pai e amigo.

Foram nove dias internado até o falecimento na tarde de quinta-feira (25) em decorrência de problemas cardíacos. O velório ocorreu na sexta-feira (26) no Cemitério Jardim das Palmeiras onde família e amigos estiveram reunidos. Desde as primeiras horas até 15h, diversas pessoas passaram pelo lugar para prestar condolências e dizer o último adeus.

Ao Lado B, Júlia Filgueiras, de 24 anos, conta como o pai tinha prazer em ensinar o judô e ensinar um pouco do que começou a aprender quando tinha apenas nove anos. “Meu pai era um cara diferenciado, ele tinha a mente aberta para tudo e tinha sempre muita vontade de compartilhar. Ele foi selecionado pela CBJ em 2019 junto com outros professores para fazer o intercâmbio Brasil-Japão. Foi a última turma do Sport For Tomorrow, que é o nome do programa. Eles passaram dois meses no Japão estudando a metodologia japonesa dentro de universidades japonesas, academias de judô e ele aprendeu muita coisa”, diz.


A acadêmica de Publicidade e Propaganda relata que após o intercâmbio Nicodemos voltou ao Brasil com um projeto inovador. “Chegando aqui, ele passou por muitos estados. Ele passou por Goiás, Amazonas, Pará, Mato Grosso compartilhando aquilo que aprendeu. Ele deu início às primeiras pós-graduações e especializações na área do esporte, principalmente na área de lutas. Meu pai foi o criador do primeiro MBA em lutas do mundo”, destaca.

Através do formato EAD, o sensei dava aulas para mais de 100 alunos em todo o País. “Até hoje isso se perpetua. A gente tem uma empresa chamada Pós Esportes. E a gente promove agora pós-graduações na área do esporte, no basquete, no vôlei, no jiu-jitsu, jiu-jitsu kids e judô”, explica Júlia.

Graduado em Educação Física pela UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Pós-Graduado em Treinamento Desportivo pela Universidade de Rondônia- UNIR e mestre em Psicologia da Saúde pela UCDB, Nicodemos deu palestras sobre qualidade de vida, judô e autoestima no Paraguai e Angola. No último país, o judoca passou 30 dias ensinando o esporte para os jovens.


O atleta foi faixa preta por 30 anos até alcançar o 6º dan e ganhar o direito de usar a faixa coral. Durante a jornada como atleta e sensei, Nicodemos conheceu e conquistou a amizade de muitas pessoas. Essa habilidade em fazer amigos é uma das virtudes que Júlia cita sobre o pai.

Além disso, ela pontua outras características que o faziam ser uma pessoa única. “A maior qualidade do meu pai era fazer amigos em todo lugar do Brasil, no mundo todo. Ele gostava de fazer churrasco, viajar. Ele era uma pessoa muito sábia, não tinha uma decisão na minha vida que eu não ligasse para ele antes de tomar”, comenta.

Mais velha entre os irmãos Olívia, Juan e Nicodemos Neto, Júlia comenta que herdou dele o gosto pelo esporte e a área educacional “Por muito tempo achava que eu não gostava do judô até ver os projetos educacionais que meu pai criou. Aí eu me encantei pela parte filosófica, educacional, do judô. Hoje em dia eu trabalho com isso, sou apaixonada. É uma paixão que nos uniu e vai continuar nos unindo”, frisa.


Marco Aurélio Moura, de 59 anos, é um dos amigos de longa data que compareceram no velório do atleta. Os dois se conheceram em 1978 quando começaram a praticar judô em Campo Grande. Os dois seguiram praticando juntos até a faixa verde e posteriormente perderam contato.

O reencontro, segundo Marco, aconteceu durante a faculdade de Educação Física “O Nico fez judô e fomos contemporâneos juntos até a faixa verde. Ele parou, foi jogar handebol e encontrei ele no curso. Falei pra ele: ‘Cara, você vai voltar a treinar, você é forte”, recorda.

Na época, Nicodemos passou a treinar com Marco nos intervalos das aulas e nunca mais deixou o judô de lado. “Como professor ele era inspirador e como atleta a principal característica era a força física. É uma perda pro judô brasileiro, ele vinha desenvolvendo um trabalho acadêmico inovador, ele era muito criativo”, lamenta Marco.


O senso de humor é outra coisa que ele cita sobre o sensei. “Antes de tudo, ele era um grande amigo, companheiro de viagens, um cara extrovertido, brincalhão demais. Ele tinha o dom de por apelido, encaixa igual uma luva os apelidos”, diz.

Nota – A FJMS (Federação de Judô de Mato Grosso do Sul) lamentou a morte de Nicodemos em nota compartilhada nas redes sociais. No comunicado, a FJMS destaca que o sensei será lembrado pela dedicação e humildade.

“Um mestre kodansha dedicado e respeitado na comunidade de judô. Sua paixão pelo judô e seu compromisso com o ensino deixaram uma marca indelével em todos aqueles que tinham o privilégio de serem seus alunos. […] O Sensei Nicodemos será lembrado não apenas por suas habilidades profissionais no judô, mas também por sua gentileza, humildade e dedicação ao desenvolvimento de seus alunos”.

Nicodemos deixa a esposa, mãe, irmão, quatro filhos e vários amigos feitos através do judô.

CREDITO: CAMPO GRANDE NEWS