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segunda-feira, 6 de maio, 2024
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Em audiência, protetores reclamam que falta conscientizar sobre leishmaniose

Especialista alertou que eutanásia não combate doença e protetora fez protesto por atendimento emergencial

A audiência pública sobre leishmaniose visceral foi uma aula de especialistas sobre o tema na manhã desta segunda-feira (7), na Câmara Municipal de Campo Grande. Além das discussões sobre a doença, protetores de animais reclamaram da falta de ações para socorrer animais abandonados e conscientização sobre a ineficácia da eutanásia.

A Capital tem cerca de 30 mil cães com leishmaniose, o que representa 20% do total, conforme dados informados pela prefeitura ao proponente da audiência, o vereador André Luis Soares da Fonseca, o “Prof. André”.

Para se assemelhar a uma mendiga, a protetora de animais Lígida Santos vestiu roupas rasgadas e pendurou no pescoço um cartaz dizendo “protetora sim, pedinte sim”.

“Paguei R$ 900 por uma cesariana porque o atendimento emergencial da Subea não cobre após as oito da noite e nem finais de semana”, disse Lígida, ao reclamar da falta de pronto atendimento a uma fêmea prenha com leishmaniose abandonada na região do Indubrasil.

A protetora Sônia Palhano sugeriu ações mais abrangentes de conscientização. “Se tivéssemos essa sala com essa conscientização, mostrando como é a transmissão, a gente conseguiria conscientizar a população demonstrando que o cão não é o responsável e tenho certeza que muitos deles voltariam com seu filho no braço para dentro de casa e tentaria um tratamento. Seria muito importante se conseguirmos nas escolas e faculdades”, disse.

Eutanásia – Além de explanar sobre a doença, o vereador André Luís destacou que muitas famílias são multiespécie para o Direito e muitas vezes há situações de separações de casais em que é colocado no litígio a guarda do animal, porque o animal não é um objeto e sim um ser senciente, que sente dor, chora e morre na ausência do seu tutor.

“Não posso considerar o cão um objeto, mesmo na saúde pública. Ninguém pensa em matar um ser humano com dengue. Ela é uma doença viral que tem dois reservatórios possíveis, o ser humano e o macaco verde, que tem na África. Mas quando se fala em leishmaniose, que é uma doença metaxênica também, se fala em matar o cachorro. O pior é que mata o animal e não faz a política de controle do animal”, disse o vereador André Luís.

Em audiência, protetores reclamam que falta conscientizar sobre leishmaniose

Capital – A subsecretária do Bem-Estar Animal, Ana Luiza Lourenço de Oliveira Lima, falou de algumas ações realizadas para conscientizar a população, a exemplo de teatro nas escolas mostrando como agir em relação aos cães.

Ana Luiza apresentou ainda o inseticida distribuído à população. Relatou ainda que mais de dois mil animais foram atendidos no mês passado encaminhados para tratamento.

A coordenadora do CCZ (Centro de Controle de Zoonoses), Cláudia Granja Macedo Mota Ferreira, destacou que a discussão é importante para assegurar tratamento de acordo com a realidade da população.

Cláudia apresentou informações sobre projeto de encoleiramento de animais, nos bairros de transmissão mais intensa e vulneráveis, por meio de parceria com Ministério da Saúde, buscando redução de casos.

“A doença ainda é negligenciada e precisa do apoio de todos. Sempre orientamos sobre o tratamento, mas a pessoa precisa acompanhar de perto e manter o tratamento mesmo quando reduzem alguns sintomas”, afirmou. No ano passado, o CCZ fez 10.982 coletas de sorologia em cães.

Doença em humanos – A leishmaniose visceral em humanos foi abordada por Camile Sanches, gerente estadual de zoonoses, representando a Secretaria Estadual de Saúde. Até julho, 79 casos foram notificados em humanos e oito óbitos registrados, de crianças a idosos.

“É um número que precisa ser lembrado. O tratamento não é fácil, tem muitos efeitos colaterais e gasto para s saúde pública”. Ela defende o olhar para essa doença com a chamada Saúde Única, para integrar as interfaces do relacionamento do animal, humano e ambiental. “Não tem como tratar sem essa integração. Diante de caso é feito controle no foco, testagem de outros animais. Nossa orientação é para que proprietário tenha conhecimento da possibilidade de tratar ou não animal”, afirmou.

Em 2022, 147 pessoas tiveram leishmaniose no Estado, com 12,5% de letalidade, conforme a médica infectologista Silvia Uehara, que representou o Ministério da Saúde. A médica disse que dos casos que chegam ao Hospital Universitário, 50% apresentam inicialmente hipótese de dengue.

Em humanos, ainda é importante atenção a outros sintomas, como emagrecimento, dor abdominal, aumento de baço e fígado. “Nestes casos, tem que testar e pensar em leishmaniose visceral”, disse. Ela lembrou da importância de os testes rápidos serem liberados a mais pessoas, citando que o Hospital Universitário precisa de mais testes.

FONTE: CAMPO GRANDE NEWS